Foto: Denis Minev
Denis Minev (*)
“Essas pessoas existem? Sim. A Amazônia hoje fervilha com gente querendo empreender e concebendo novas soluções. Os principais avanços têm sido urbanos —há casos de startups amazonenses de TI vendidas por dezenas de milhões de dólares”.
“A única e principal solução, não só para a região, mas para qualquer sociedade, é encontrar o próprio caminho; em alguns casos, será necessário o desenvolvimento de tecnologias amazônicas”.
Publicado na Folha em 27.mar.2018
Uma parceria entre dezenas de empresas multinacionais e brasileiras que operam na Amazônia quer promover uma nova economia na região, baseada no empreendedorismo e em princípios de investimento produtivo de impacto.
Trata-se da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), lançada em dezembro, em Manaus, com apoio da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). A Amazônia carece de bons empreendedores, dotados de capacidade executiva e de visão sustentável e social.
Tanto nas áreas florestadas quanto nas desmatadas, existem oportunidades grandiosas. A pecuária, principal causadora de desmatamento, é um exemplo. Na maior parte das propriedades, ela opera com produtividade inferior a 0,5 cabeça de gado por hectare. Com um pouco de investimento e tecnologia (adubos, manejo de pasto, vacinas, seleção de capim e matrizes etc.), esse índice poderia ser elevado a quatro cabeças por hectare.
Considerando apenas o rebanho do estado do Amazonas, de 1,3 milhão de cabeças e um valor por boi de cerca de R$ 1.500, representaria um acréscimo de patrimônio de quase R$ 14 bilhões, ou R$ 3 mil per capita. Mais: esse aumento de produtividade de oito vezes pode acontecer sem que um único hectare adicional seja desmatado. Oportunidades semelhantes existem em diferentes cadeias produtivas, como as de manejo florestal, piscicultura, silvicultura e turismo.
Existem programas de governo buscando a redução do desmatamento. Todos provavelmente bem-intencionados. Os resultados, entretanto, tendem a arremessar os 25 milhões de amazônidas na subsistência do Bolsa Família e da Aposentadoria Rural, enquanto nossos recursos naturais viram caso de polícia. Não prosperaremos assim.
Organizações não governamentais também têm tido um papel importante na região, promovendo ações sociais e ambientais com impactos significativos. Mas seus recursos, por mais generosos que sejam, esgotam-se rapidamente em um mar de necessidades de magnitude amazônica. Também não prosperaremos assim.
A única e principal solução, não só para a Amazônia, mas para qualquer sociedade, é encontrar o próprio caminho. Em alguns casos, será necessário o desenvolvimento de tecnologias amazônicas —para tornar a produção de tambaqui, no Acre, tão produtiva quanto a de salmão, no Chile, por exemplo. Em inúmeros outros nichos, o desafio é apoiar empreendedores qualificados e conscientes, que criem modelos de negócios inovadores, com considerações ambientais e sociais.
Essas pessoas existem? Sim. A Amazônia hoje fervilha com gente querendo empreender e concebendo novas soluções. Os principais avanços têm sido urbanos —há casos de startups amazonenses de TI vendidas por dezenas de milhões de dólares.
As amarras de governo e a falta de infraestrutura não são tão severas no mundo digital, mas apenas alguns focos de empreendedores, isolados em universidades ou centros de pesquisa, são insuficientes para alavancar a região.
A transformação da Amazônia —e, por meio dela, quem sabe a do Brasil?— só se dará quando abrirmos as portas aos nossos empreendedores. Não precisa muito. Um pouco de capital. Uma boa dose de desburocratização. Uma pitada de infraestrutura. É nesse rumo que a PPA caminhará. Como iremos fazê-lo ainda será construído, mas as linhas-mestras são claras, e as portas estão abertas a parceiros e empresas.
Mirando os desafios que temos pela frente, cabe erguer uma grande placa: “Procuram-se empreendedores de visão transformadora para o futuro da Amazônia”
(*) Denis Benchimol Minev
É economista, com pós-graduado em Stanford, Diretor Presidente do Grupo Bemol, cofundador e membro do Comitê Gestor da Plataforma Parceiros pela Amazônia e Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial
Comentários