Foto: Bruno Zanardo
Por Wilson Périco(*)
Existe alguma relação entre o setor produtivo e a escolha do novo diretor do INPA, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, já em processo de discussão pela comunidade científica? Com certeza, se considerarmos que aquela instituição gera conhecimento para novos empreendimentos e este setor gera riqueza, e que parte desta deve ser legalmente destinada a promover desenvolvimento e novas matrizes de negócios nesta região.
Na prática, entretanto, o que se percebe é a desarticulação entre o público e o privado. Entre todos os atores federais, a bem da verdade e deles com a região. E quem perde com essa desordem institucional é a sociedade. O TCU já anotou essa anomalia que está relacionada a perda de recursos, confisco dos fundos para outros fins e desperdício de energias.
A economia da Zona Franca de Manaus está contemplada na Constituição Federal, e para exigir o cumprimento da Lei esta aproximação de propósitos é fundamental. De quebra, esta união pode diversificar a atividade econômica para produção de novos negócios na Amazônia. Como essa diversificação tem um ritmo próprio, pois as plataformas de C&T precisam de tempo para maturação, estamos com meio século de atraso. Temos igual período para enfrentar esse desafio, deixando na região os recursos como manda a lei e como sugere o relatório do Banco Mundial, para preparar inteligências, infraestrutura e ensaios desta nova trilha.
O que não podemos é fulanizar a guinada da diversificação, nem restringi-la a mandatos governamentais. Devemos depender apenas de nossa disposição em trabalhar em parceria, mapeando a coincidência de objetivos e priorizando os benefícios a sociedade. Os recursos pagos pela indústria, algo que se aproxima a R$ 2 bilhões por ano, são suficientes para aumentar nossa competitividade, criando soluções energéticas, logísticas de transporte e de comunicação. Repassando os projetos já pesquisados temos massa crítica para apostar nessas saídas.
E se não podemos ficar na dependência do jogo político do Planalto Central, vamos mobilizar a bancada estadual e regional, para tomar as providências de nossa diversificação. Vamos dar o primeiro passo com a formulação da Agenda Amazônia para estreitar a partilha de iniciativas. Não podemos ficar na dependência da ação alheia se não propomos caminhamos interativos.
Compete-nos a ousadia de exigir o cumprimento da Lei. E ao assumir o protagonismo de decisões devemos, no limite, ter coragem de recorrer à justiça suprema, tanto para que as verbas recolhidas para promover as desigualdades regionais sejam aqui aplicadas, como para dizer não ao embargo de gavetas do licenciamento dos PPBs, entre outras ilegalidades e imoralidades com quem aqui trabalha, gera riqueza e tem o compromisso claro fa responsabilidade social.
Promover a articulação institucional significa enveredar pela transparência na gestão dos recursos públicos, na aplicação inteligente e eficaz dos recursos do contribuinte. Por isso, o episódio das eleições do INPA tem a ver com essa integração. Afinal, trata-se de uma instituição criada para fazer frente às tentativas históricas de usurpação por parte da cobiça internacional, A escolha do novo dirigente compete, obviamente, aos servidores da Casa, e assim evitar eventuais paraquedistas. Entretanto, como servidores públicos, lhes cabe consultar seu mantenedor, o contribuinte, a sociedade, a quem deve os frutos de sua dedicação e conquistas.
Estivemos no Canadá, não faz muito tempo, participando do World Skills, o evento global de inovação. E chamou a atenção aos participantes do Amazonas a quantidade de madeira nas carretas gigantescas em rodovias impecáveis daquele país. Madeira é um dos carros-chefe da Indústria canadense. O Amazonas dispõe de 3,2 bilhões de metros cúbicos de madeira para manejo mas a legislação nos exige tratar a floresta como a Índia trata suas vacas. Ora, o INPA, com apoio do governo japonês, desenvolveu estudos da dinâmica florestal amazônica, compatibilizando economia, sustentabilidade e prosperidade. Este é o desafio das novas modulações econômicas: a articulação inadiável das parcerias institucionais.
* Wilson é economista e presidente do CIEAM Centro da Indústria do Estado do Amazonas. ([email protected])
Publicado originalmente no site InfoMoney, 10 abr 2018 13h42
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