Por Augusto César Barreto Rocha
Europeus são interessantes. Possuem área territorial relativamente pequena, densamente povoadas, com qualidade de vida e infraestrutura avançadas, construídas com séculos de atividades econômicas, com guerras e interações conturbadas, com uma economia pujante e dificuldades de toda ordem. Todavia, de maneira muito inteligente e diligente seguem influenciando e se posicionando frente ao que acontece no mundo, tentando manter a sua liderança tecnológica, cultural e econômica. É cada vez mais difícil, mas seguem nesta direção.
Por outro lado, no Brasil, temos um conjunto de problemas particulares e o hábito de querer ouvir todos, agradar a todos e dar importância para todos os comentários ao nosso respeito, quer de amigos, de inimigos, de bandidos, de mocinhos, de qualquer um. Temos uma enorme dificuldade para simplesmente ignorar comentários. Damos voz e espaço para todos os comentários. Muito mais espaço do que deveríamos.
Ver como são responsáveis os holandeses em relação ao meio ambiente, com o uso de bicicletas nos faz ignorar o quanto eles interferem no meio ambiente por meio de canais artificiais, conquistando centímetro a centímetro as terras dos “países baixos”. Imagine só se fosse feito um estudo de impacto ambiental seguindo as regras brasileiras: seria impossível a construção daquele país. Isso não seria diferente em Veneza ou outras localidades. Será que estamos com um conjunto de regras que faça minimamente sentido na economia global ou estamos nos afundando na lama, criada por nossa atenção excessiva aos detalhes pouco importantes ou caros demais para serem seguidos?
Analisar estacionamentos construídos sobre ruinas romanas, como se vê em Woerden (Holanda): isso seria impossível em nossa legislação. Todavia, está lá o estacionamento e o que sobrou foram algumas fotos do sítio arqueológico nas paredes do estacionamento. Nosso país precisa ir além do purismo ou de uma perfeição impossível para fazer atitudes empreendedoras. Onde deve parar a discussão e onde deve se avançar na situação para um futuro melhor das populações?
Ficamos remoendo o passado com enorme dificuldade de superá-lo, porque queremos encontrar um jeito de agradar a todos, o que é impossível. Para chegar às soluções para o desenvolvimento do Brasil precisamos pensar de um jeito adequados para nós: simplicidade, com baixo custo e grandes obras. Nossas escalas são outras. Olhar uma hidrovia no Rio Reno, na Alemanha ou um porto secular em Roterdã é algo extremamente diferente da reflexão de um Porto no Rio Madeira ou no Rio Negro: tudo é diferente. A Alemanha inteira possui 357.386 km2 e o Amazonas sozinho 1.559.159km2. O Rio Reno possui apenas 1.233km. Somente o Rio Negro possui 2.250km de extensão. Querer tratar os dois problemas do mesmo jeito é um equívoco. Ter mais rigor conosco é um duplo equívoco. Das pessoas aos recursos, das escalas de medida às densidades populacionais. Temos uma grandeza e uma quantidade de recursos diferente. O Amazonas possui a mesma densidade populacional da Sibéria: 3 hab./km2.
Encontrar um caminho do meio é importante para o país. A imprensa, por exemplo, que deveria fazer análises e críticas, adora fazer notícias e manchetes que vendem o sangue em todos os níveis: do jornal com sangue das manchetes policiais às manchetes políticas: tudo é traduzido como uma partida de futebol ou como dedos apontados para erros que sempre existem ou comparações indevidas. Ler jornais europeus, norte-americanos ou brasileiros nos faz percorrer as diferenças culturais de uma forma interessante: como avançar ou como ficar em círculos. Depende do que se quer. Parece que queremos seguir em círculos.
Como sair desta armadilha? Parece que precisamos nos perceber em uma armadilha para que possamos sair dela. Enquanto acreditarmos que é possível cumprir integralmente estas regras alucinadas que nos são impostas pelos legisladores e executivos, de maneira geral, enquanto os custos associados ao país não puderem ser drasticamente reduzidos, seguiremos tendo uma complexidade regulatória tão expressiva e tão impossível de ser seguida que somente quem tiver coragem de resistir à lei de alguma forma ou grande quantidade de recursos financeiros e de tempo é que poderá se desenvolver. Não podemos passar uma década para aprovar um projeto de porto. Precisamos urgentemente simplificar o país.
A complexa legislação penal, de impactos ambientais, de construções de maneira geral, tem gerado um país tão complexo e quase impossível de realizar atividades econômicas. É necessário simplificar para todos e eliminar o espaço para a corrupção. De outra forma, nos tornaremos cada vez mais uma economia dependente de favores do rei, dos amigos do rei, de quem tem recursos de reis e de tudo aquilo que repudiamos, mas que no fim do dia é o que é feito, mas todos fazem de conta que não é feito. Até quando?
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