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Por Sandro Breval
O professor-doutor Sandro Breval tem uma alentada bagagem acadêmica que inclui: Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de Chicago (EUA) na área de Finanças e Políticas Públicas, Insead (França) em Gestão Estratégica, Wharton School (EUA), Strategy and Business Innovation, ESADE (Madrid) em Alta Performance e Liderança.
Atualmente em pós-doutoramento na Faculdade de Engenharia na Universidade do Porto e em Manaus lecionando na Ufam, empreende na área de tecnologia e sucedâneos, entre outras demandas de uma sociedade que corre contra o tempo para qualificar-se em inovação tecnológica.
A palavra de ordem neste momento – em que nossa economia carece de agregação de valor para sobreviver – é a Indústria 4.0, um patamar novo saberes e fazeres que desafia o setor privado e sua interface com o poder público. Falamos de quarta revolução industrial, uma onda em frenético movimento, onde o conjunto de tecnologias disponíveis permite harmonizar o universo físico, digital e biológico. Uma prosa que remete aos pensadores pré-socráticos que definiam a Physis grega como um universo em harmonia/articulação à mercê do movimento. A aposta que se impõe é a qualificação dos cérebros diferenciados, capazes de ler e conhecer a realidade e sua evolução. Foi neste contexto que Sandro Breval recebeu a Coluna Follow Up para esta prosa alto nível. Confira!
FOLLOW Up – O ponto inicial seria a necessidade de proceder a um diagnóstico das indústrias instaladas no PIM, Polo Industrial de Manaus, que demonstrem seu posicionamento quanto à maturidade e prontidão de cada uma delas quanto à Indústria 4.0. Como você enxerga isso?
SANDRO BREVAL – A ACATECH (Academia Alemã de Ciência e Engenharia) desenvolveu um modelo que contempla 6 (seis) estágios de maturidade: informatização, conectividade, visibilidade, transparência, capacidade preditiva e adaptabilidade, no qual a partir de análise das principais áreas funcionais da empresa determina-se em que estágio ela se encontra.
Vale o registro que, em 2018, o então Ministério da Indústria e Comércio Exterior e Serviços, publicou a Portaria No. 2.091-SEI, de 17 de dezembro de 2018, que trata da metodologia a ser adotada nos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para a indústria 4.0 na Zona Franca de Manaus e cria o Selo da Indústria 4.0. Portanto, o mapeamento das principais dimensões da empresa e suas relações funcionais, possibilitariam a identificação da maturidade da organização. Importante registrar, que já temos pesquisa na academia, inclusive, que ampara esse diagnóstico com modelo de maturidade específico.
FUp – Um dos pilares da Indústria 4.0 é a inserção profunda, no processo industrial, da tecnologia da informação (TI) e da Tecnologia da automação (TA) visando uma amplitude da responsividade da empresa no seu ecossistema de negócios. Como se daria esse movimento e quais seus ganhos e avanços?
S.B. A implantação de polos de biotecnologia e digitais podem propiciar o suporte tecnológico necessário para a base da Indústria 4.0, além do crescimento da sombra digital (digital shadow) orientada para o crescimento do valor agregado, reduzindo custos de produção e manutenção no âmbito da manufatura.
FUp – A resposta está na necessidade, das empresas, de tornarem-se cada vez mais ágeis, flexíveis e de elevada responsividade. No contexto liberal, certamente, a implantação da manufatura inteligente torna-se condição de sobrevivência.
S.B. – Minha visão é que deverá ocorrer a consolidação dos arranjos produtivos locais, de um lado orientados pela necessidade de redução das margens, e custos, e de outro pela incapacidade de investir na mudança tecnológica. Vale ressaltar que podemos visualizar inúmeras iniciativas públicas e privadas, em diversos Países, relativamente à Indústria 4.0, a exemplo dos Estados Unidos com o Programa de parcerias para a manufatura avançada, a própria Alemanha com uma ação governamental ampla para o desenvolvimento tecnológico, na França com o “La Nouvelle Industrielle” que alcança 34 setores da indústria, no Reino Unido com um Plano chamado “Future of Manufacturing” com uma visão do setor de manufatura para 2050, bem como a China através do Plano Governamental “Made in China 2025”, que prioriza inúmeros setores industriais. Por fim, a falta de investimentos acarretará no atraso, já latente, da indústria brasileira neste novo ecossistema tecnológico e econômico.
FUp – A 4ª revolução industrial é uma realidade de negócio, social, econômica e tecnológica. Comparando, com as devidas vênias e proporções, é uma Blitzkrieg (tática alemã de guerra) que está permeando a manufatura mundial. Mudanças nas cadeias de suprimento, nos processos fabris, na cultura organizacional, na necessidade de redução de custos, margens, de novas lideranças.
S.B. – Precisamos traçar estratégias para construir novos pilares da indústria, iniciando por entendermos nossa realidade, e nossa posição, seguindo pela sinergia ciência x empresa e buscando o desenvolvimento do parque fabril, através da curva flexiva positiva da capacidade digital. A palavra de ordem é a Interoperabilidade que consiste na integração, compartilhamento, compatibilização e customização entre os elos da cadeia produtiva, que aliás, é princípio da Indústria 4.0, já que inibe perdas de valor agregado. A chave para a interoperabilidade está na tecnologia (internet das coisas, Big Data e ambiente ciber físico).
Sem Interoperabilidade não temos revolução. Ficaremos no bunker.
FUp – Considerando a importância de conhecermos a realidade da indústria brasileira, principalmente do Polo Industrial de Manaus, existem estudos quanto ao posicionamento na Indústria 4.0 ? S. B – Sim. Podemos exemplificar a nossa pesquisa que contempla a criação de um modelo de medição do grau de maturidade e prontidão quanto à Indústria 4.0 do PIM. Já temos o modelo que inicialmente abrange as seguintes dimensões da organização: Produtos, Manufatura, Estratégia e organização, Cadeia de Suprimentos, Modelo de negócios e Interoperabilidade, e de forma transversal os estágios da Acatech. O modelo desenvolvido possui uma robusta modelagem matemática, a qual possibilita um mapeamento das relações funcionais, e de causalidade, com as variáveis da empresa. Foi aplicado, recentemente, em uma empresa do segmento eletroeletrônico do PIM, e que podemos perceber com o diagnóstico produzido, uma total aderência e ajustamento do modelo, indicando os pesos de cada dimensão e sobretudo o estágio que a empresa se encontra.
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