Levantamento lançado na COP16 identificou 1,3 milhão de hectares de manguezais na costa brasileira, que podem beneficiar comunidades tradicionais com a compensação de emissão de carbono
Os manguezais brasileiros são ecossistemas valiosos que desempenham um papel crucial no armazenamento de dióxido de carbono (CO₂), com uma estimativa de 1,9 bilhão de toneladas de CO₂ estocadas ao longo de 13.906 km² da costa do Brasil. Essa quantidade de carbono armazenada possui valor estimado em R$ 48,9 bilhões no mercado de carbono, o estudo Oceano sem Mistérios: carbono azul dos manguezais, divulgado nesta quinta-feira (24). O levantamento é do projeto Cazul, ligado à organização não-governamental Guardiões do Mar e foi lançado na COP16, convenção de biodiversidade da ONU que acontece em Cali, na Colômbia. É a primeira vez que uma pesquisa desse tipo é feita em escala nacional.
O mercado de carbono na prática
O CO2 desempenha o papel de um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. Assim, ao preservar os manguezais e o carbono que eles armazenam, não apenas se contribui para mitigar os impactos desse fenômeno, como também se pode gerar riqueza no mercado de créditos de carbono, incentivando a preservação ambiental. Por exemplo, uma empresa petroleira ou siderúrgica, que exerce atividade poluidora, pode comprar créditos de carbono como forma de compensar a poluição que ela provoca, gerados por meio de ações de recuperação ambiental ou simplesmente pela manutenção e preservação da floresta.
Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO₂, tendo sido comercializado no Brasil a US$ 4,6 (R$ 25,85). Esse valor se refere ao mercado voluntário de carbono, praticado no país. Em uma economia de baixo carbono estima-se que esse crédito possa ser negociado a US$ 100 (R$ 562), o que valorizaria o estoque dos manguezais brasileiros para mais de R$ 1 trilhão.
Em todo o país são 300 municípios com o ecossistema, sendo a costa amazônica a detentora da maior faixa contínua de manguezais do mundo.
Segundo Pedro Belga, criador da ONG Guardiões do Mar, a capacidade de sequestro de carbono dos mangeuzais pode gerar um fundo monetário para ser distribuído entre comunidades tradicionais que obtêm sua renda desse ambiente, como quilombolas, agricultores familiares, catadores de caranguejos, quebradeiras de coco, caiçaras e marisqueiros, entre outros.
“Hoje só se fala de mercado de carbono. Só que esse mercado ainda é muito ‘greenwashing’ [falsa aparência de sustentabilidade], não chega na ponta. Ou seja, o empresário precisa emitir carbono para obter lucro e compra o crédito em várias partes do planeta para limpar sua barra. Só que isso está começando a mudar”, afirma Belga.
Comentários