Autores do estudo acreditam que a presença de microplásticos em golfinhos se origina a partir do momento em que os animais tiram a cabeça da água para respirar, inalando assim as partículas de plástico
Um estudo feito por cientistas nos Estados Unidos encontrou a primeira evidência de inalação de microplásticos entre mamíferos adaptados ao ambiente aquático. A pesquisa, publicada nesta quarta-feira na revista científica Plos One, indica que golfinhos podem estar expostos a microplásticos através da respiração, após resíduos de microplástico serem encontrados no pulmão de alguns desses animais.
A pesquisa coletou amostras de ar exalado de golfinhos-nariz-de-garrafa em Sarasota Bay, na Flórida, local mais urbano, e Barataria Bay, na Louisiana, na zona rural. Na respiração exalada de todos os 11 golfinhos testados foi detectada a presença de microplásticos, levando os pesquisadores a acreditar que os plásticos inalados estavam no ar. O poliéster foi predominante nas amostras, um polímero comumente utilizado na fabricação de roupas, que liberam grandes quantidades de partículas quando lavadas.
Estudos anteriores com essa espécie de golfinho já relataram uma exposição prevalente a produtos químicos plastificantes (por exemplo, ftalatos, substâncias usadas para tornar plásticos mais maleáveis e duradouros), assim como a presença de partículas no trato gastrointestinal. Entretanto, a exposição por inalação ainda não havia sido estudada.
Há uma preocupação especial com o impacto dos microplásticos em golfinhos na região de Barataria Bay, pois esses animais marinhos já sofreram com problemas de saúde pulmonar devido ao desastre de vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, em 2010.
O problema recorrente dos microplásticos
No meio ambiente, os plásticos podem se degradar em micropartículas – os microplásticos. Seu transporte pelo vento é um fator-chave para sua contaminação onipresente, documentada em diversas espécies de fauna em todos os níveis tróficos, em ambientes tanto terrestres, quanto marinhos.
Estudos anteriores demonstraram que as pessoas ingerem e inalam esses vestígios, que prejudicam a saúde ocasionando problemas respiratórios, além de possíveis inflamações pulmonares.
“A inalação de microplásticos em humanos é um campo cada vez mais visado, mas há poucos estudos em animais selvagens”, disse Leslie Hart, especialista em saúde pública da Universidade de Charleston, nos EUA, e coautora do estudo, para o The Guardian. “O fato de os golfinhos terem uma capacidade pulmonar muito maior e respirarem profundamente pode significar que eles estão expostos a doses maiores de microplásticos do que os humanos”, completa.
Apesar das descobertas, o artigo publicado sobre a análise de microplásticos em golfinhos pontua que estudos adicionais são necessários para entender melhor a extensão da inalação de microplásticos, bem como para explorar os impactos, considerando seus potenciais riscos à função pulmonar e à saúde. Além disso, os pesquisadores reconheceram que o resultado pode não ser representativo de todas as populações de golfinhos.
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