A pior seca extrema em seis décadas no Equador levou o governo a implementar cortes drásticos de energia. Com as hidrelétricas operando em níveis críticos, o país enfrenta apagões prolongados, tanto no período noturno quanto durante o dia, afetando metade das províncias.
O Equador está vivendo uma das crises energéticas mais severas de sua história recente, desencadeada por uma seca extrema que já dura meses. Dependente em mais de 90% de sua matriz energética de fontes hidrelétricas, o país viu os níveis de suas represas caírem drasticamente, comprometendo a produção de eletricidade. Como resposta, o governo anunciou cortes generalizados de energia, inicialmente programados para a madrugada, mas agora estendidos para o horário diurno. A medida afeta diretamente 12 das 24 províncias do país, impondo desafios ao cotidiano de milhões de equatorianos.
Medidas de racionamento
De acordo com o Ministério da Energia do Equador, os cortes de eletricidade vão ocorrer das 8h às 17h (horário local). Essa decisão foi tomada após um comunicado emitido no domingo, 22 de setembro, onde o governo esclareceu que, diante das “radicalizações das mudanças climáticas”, seria necessário redistribuir o fornecimento de energia. Inicialmente, os cortes seriam realizados apenas no período da madrugada, mas a gravidade da situação forçou a expansão para o horário comercial. Além disso, já na terça-feira anterior, dia 17 de setembro, o governo havia anunciado planos para interrupções noturnas de oito horas, de segunda a quinta-feira, em todo o território nacional.
Esses apagões, que somam-se aos cortes diurnos, buscam preservar o funcionamento mínimo do sistema elétrico e garantir que as reservas de água disponíveis nas barragens durem o suficiente até a chegada de novas chuvas.
Emergência hídrica e alerta vermelho
A crise foi agravada pela seca recorde que assola o Equador. O comitê de emergência, liderado pela ministra do Meio Ambiente, Inés Manzano, declarou “alerta vermelho” em diversas regiões do país. Esse nível de alerta sinaliza que a situação já atingiu níveis críticos, com a estiagem não apenas comprometendo a produção de energia, mas também colocando em risco as colheitas e facilitando a proliferação de incêndios florestais.
Segundo a agência Bloomberg, o setor agrícola está severamente ameaçado, com perdas previstas nas plantações, o que pode impactar diretamente a segurança alimentar do país. Além disso, os incêndios florestais, exacerbados pelas condições secas, estão se espalhando rapidamente em áreas vulneráveis, aumentando os desafios para os serviços de emergência e bombeiros.
Diante dessa situação, o governo equatoriano também impôs medidas de segurança durante os cortes de energia. No primeiro apagão noturno, ocorrido em 18 de setembro, um toque de recolher foi estabelecido em áreas com altos índices de criminalidade, visando conter eventuais desordens ou crimes que poderiam ser facilitados pela escuridão. Com o agravamento da crise, o governo busca proteger as populações mais vulneráveis enquanto os cortes continuam.
Entre as medidas planejadas para contornar a crise, está a contratação de navios geradores de eletricidade, movidos a combustíveis fósseis. Essas embarcações seriam uma solução temporária, mas de alto custo, que visa garantir o fornecimento de energia enquanto o país enfrenta a seca e até que as condições climáticas melhorem. Além disso, o governo está apostando em técnicas de semeadura de nuvens, um processo que envolve o uso de produtos químicos para induzir a precipitação em áreas que estão sofrendo com a estiagem.
Impactos na Colômbia
A seca extrema não afeta apenas o Equador. A Colômbia, país vizinho, também está enfrentando condições críticas. A capital, Bogotá, por exemplo, está adotando medidas rigorosas de racionamento de água devido à falta de chuvas que atingiu os níveis mais baixos em mais de 50 anos. Segundo o prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán, a partir do dia 29 de setembro, os moradores da capital colombiana terão que passar 24 horas sem água corrente a cada nove dias, em um esforço para preservar os reservatórios da cidade.
Além disso, medidas restritivas ao uso de água da torneira já estão em vigor, como a proibição de lavar carros ou irrigar jardins. Essas ações visam mitigar os efeitos da crise hídrica, que também ameaça a agricultura e a segurança alimentar da Colômbia.
Mudanças climáticas e a crise energética
O Equador, assim como muitos outros países latino-americanos, está sofrendo com as consequências das mudanças climáticas, que têm tornado os eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos. A seca recorde que o país enfrenta é um reflexo direto desse fenômeno global, e especialistas alertam que crises como essa podem se tornar mais comuns no futuro.
Os impactos no setor de energia são especialmente graves em países que dependem fortemente de fontes renováveis, como o Equador, onde mais de 90% da eletricidade vem de hidrelétricas. A redução no volume de água disponível para geração de energia está colocando uma pressão imensa sobre o governo e a infraestrutura nacional. Enquanto a seca persistir, as perspectivas de uma solução rápida parecem distantes, e as medidas emergenciais, como o uso de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, mostram-se apenas paliativas.
A crise energética e hídrica no Equador, alimentada por uma seca histórica, está forçando o país a adotar medidas drásticas, como apagões prolongados e racionamento de energia. A situação reflete um problema mais amplo que atinge também a Colômbia e outros países da região, à medida que os efeitos das mudanças climáticas se tornam mais intensos. Com a previsão de chuvas ainda incerta, as populações equatoriana e colombiana terão que enfrentar semanas, ou até meses, de restrições severas e desafios para manter o funcionamento de suas infraestruturas essenciais.
*Com informações da BBC
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