Mobilidade urbana em Manaus deve integrar o Distrito Industrial e o transporte de cargas, respeitando a natureza e o meio-ambiente. A produção de bicicletas na indústria na Amazônia, que já supera 456 mil unidades anuais, pode crescer ainda mais com uma infraestrutura adequada.
Por Augusto Rocha
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Um estudo liderado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado em junho de 2024, com dados do C3S, concluiu que a temperatura global provavelmente excederá, 1,5°C acima do nível pré-industrial nos próximos cinco anos. Acredito que isso levará a uma condição de clima extremo que aponta para uma seca recorrente na Amazônia e uma mudança da dinâmica de seus rios, das vidas e da logística para viver e empreender com sustentabilidade na região, como se viu no ano passado e se percebem os sinais deste ano.
Este contexto de mudanças trará oportunidades e oportunistas. Como separar os dois e como a sociedade pode se unir para este desafio? Nos primeiros momentos, é fácil perceber alguns dos oportunistas, como empresas que agravam o custo do frete, antes mesmo do problema acontecer – os armadores globais que operam contêineres na região já estão com um sobrepreço, que, para alguns parece um esforço e para outros oportunismo.
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Além de enfrentar os oportunistas, precisamos identificar as oportunidades. Chegou o momento de os governos e a sociedade mostrarem a sua força, em todas as dimensões, do município ao país. Precisamos sair do imobilismo em relação ao aquecimento global. Afinal, o Brasil não tem sido um negacionista do problema, com reconhecidos esforços nos fóruns internacionais. Entretanto, em nossas ações internas, temos simplesmente ignorado este cenário, que parecia coisa de rico estrangeiro.
A mudança chegou para todos e para quem é pobre e isolado se apresenta com mais violência. A abundância de chuvas na Amazônia sumiu. A fartura dos rios está secando e está se perdendo. O que fazer? Há um novo modo de vida que precisa ser construído e isso será realmente feito? O que temos discutido é apenas um ou dois pares de dragagens, como se fossem a solução de todos os problemas.
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Estamos em ano de eleição municipal e ainda não se verifica nas campanhas este debate. Em que medida os municípios centrais e isolados vão atuar em relação ao problema? Quais ações poderão ser feitas? O transporte público continuará centrado em automóveis, que são poluentes, pouco eficientes, caros e apenas para as elites econômicas? Ou encontraremos formas mais adequadas para o deslocamento urbano nas cidades?
As conexões com o interior seguirão dependente dos rios ou existirão estradas sob um novo paradigma de proteção do entorno das rodovias? As estradas vicinais seguirão sendo arcos de destruição e de desmatamento ou teremos uma nova consciência ambiental? Há muito por ser feito e ainda não começamos nem a falar sobre o problema. A campanha municipal precisa encontrar a pauta dos municípios e ela passa pelo aquecimento global, organização das cidades, mobilidade urbana, praças, creches, educação básica e parece que apenas estamos focados nas fofocas, longe dos problemas e muito distantes das soluções.
A indústria de Manaus espera soluções de mobilidade urbana que incluam o Distrito Industrial e o transporte de cargas como uma parte importante da cidade de Manaus. As bicicletas aqui produzidas precisam entrar na lógica da cidade, com mais respeito à natureza e ao meio-ambiente. Há muito por ser feito e uma mobilidade urbana cidadã, com transporte ativo e transporte coletivo abundante é um bom começo. Em 2023 produzimos em Manaus mais de 456 mil bicicletas – este número poderia ser bem maior.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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