Aldo Rebelo critica duramente a política ambiental do governo e a atuação das ONGs em novo livro, enquanto se aproxima da extrema-direita
O ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo (MDB), lançou recentemente um livro polêmico sobre a Amazônia. Em “Amazônia: A Maldição de Tordesilhas – 500 Anos de Cobiça Internacional” (ed. Arte Ensaio), Rebelo faz duras críticas às políticas ambientais do Ministério do Meio Ambiente, liderado por Marina Silva (Rede), e à atuação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Além disso, ele se destaca por suas menções negativas às ONGs, especialmente as estrangeiras e aquelas brasileiras que recebem financiamento de entidades internacionais.
Tradicionalmente conhecido como um dos mais influentes e conhecidos comunistas do país, Aldo Rebelo tem se atrelado recentemente à extrema-direita brasileira. Esse grupo é conhecido pelo negacionismo climático e pela permissividade ao desmatamento e avanço da fronteira agrícola. Sua posição crítica à política ambiental atual reflete essas alianças, colocando-o ao lado de figuras que minimizam os impactos das mudanças climáticas.
Para Rebelo, a política ambiental para a Amazônia proposta pelas ONGs e pelo Ministério do Meio Ambiente é um fracasso. Ele argumenta que essa abordagem tem um custo social significativo para os 30 milhões de brasileiros que habitam a região. Seu interesse pela Amazônia remonta às aulas de geografia em Viçosa, Alagoas, onde nasceu. Ao longo de sua carreira como deputado federal pelo PCdoB, Rebelo fez diversas incursões à região, além de suas visitas durante seus mandatos como ministro.
Em 2023, Rebelo passou quatro meses em Altamira, no Pará, pesquisando para o livro, período em que também participou de debates e deu palestras. Sua longa trajetória na esquerda política não impediu que ele aceitasse, no início deste ano, o convite do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para assumir a Secretaria de Relações Internacionais. A decisão foi bem recebida por figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que esteve presente no lançamento do livro em Brasília.
Atualmente no MDB, Rebelo é cotado para ser vice na chapa de Nunes nas próximas eleições municipais. O livro, que teve patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro e da agência FSB, não poupa críticas à política ambiental conduzida por Marina Silva, uma rival de longa data. Rebelo relembra seu desacordo com a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol em 2005 e seus conflitos durante a relatoria do Novo Código Florestal, aprovado em 2012.
Utilizando dados do Censo 2022, Rebelo destaca os altos índices de analfabetismo, mortalidade infantil e falta de infraestrutura básica entre as populações indígenas, como prova do fracasso da atual política para a Amazônia. Apesar das críticas, ele reconhece o papel suplementar de algumas ONGs filantrópicas, que atuam onde o Estado é omisso.
O livro de Rebelo menciona frequentemente ONGs estrangeiras, acusando-as de formar um “Estado paralelo” que bloqueia o desenvolvimento na Amazônia. Ele relata que a plataforma de jornalismo Sumaúma enviou uma repórter a Altamira para investigar suas atividades e fontes de financiamento, algo que Rebelo considera uma tentativa de vigilância indevida.
As críticas às ONGs não são exclusivas de Rebelo. Bolsonaro, antes mesmo de assumir a presidência, já atacava essas entidades, e o próprio presidente Lula também manifestou críticas em relação aos licenciamentos ambientais influenciados por ONGs. No entanto, Rebelo não aborda no livro o aumento do desmatamento durante o governo Bolsonaro, que, segundo o sistema Prodes do Inpe, ficou acima de 10 mil km² entre 2018 e 2022.
Rebelo também é severo em suas críticas ao Ibama, que ele acusa de ser uma instituição controlada por interesses externos. Em referência à negação de uma licença para perfuração na bacia Foz do Amazonas pelo Ibama em 2023, ele argumenta que o órgão tem um impacto negativo no desenvolvimento do país. Tanto o Ministério do Meio Ambiente quanto o Ibama foram procurados pela reportagem, mas não responderam às críticas até a publicação deste texto.
Com informações da Folha de São Paulo
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