O aeroporto sem atrações ou voos será insuficiente. Precisaremos de ações sistêmicas e já passou da hora de usar os recursos estaduais do FTI para o que ele foi concebido: turismo e interiorização. Há bastante o que ser feito para que os estudos sejam viáveis e gerem obras e para o que já é obra se transforme em frequências de voos. Há uma intensidade viável de voos de Manaus para o interior do Amazonas e, além disto, de voos entre Manaus e todo o Norte da América do Sul.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Segundo a literatura de transportes, o modal aéreo é muito apropriado para pessoas, cargas de alto valor agregado, em distâncias tipicamente com mais de 500km. Para os operadores, será melhor quando há volume de passageiros, de tal forma que permita vários voos por dia, pois a grande frequência facilita o ganho de escala e redução dos custos operacionais, favorecendo a lucratividade.
Em contrapartida, é muito difícil ganhar dinheiro neste setor. Quando se olha no longo prazo é assustadora a quantidade de empresas que fecharam, com grandes investimentos, muita incerteza e pequena margem de lucro, com externalidades de guerras, problemas de tempo, volatilidade cambial e econômica. Assim, todos lembraremos, com alguma facilidade, de empresas aéreas que já não existem mais.
O Norte do Brasil, com poucas estradas, tem muito destas atratividades. Entretanto, sem aeroportos, não há oportunidade de uma rota ser estabelecida. O Novo PAC apresentado na sexta-feira passada, finalmente coloca na pauta projetos de investimentos para aeroportos. No Amazonas há estudos e projetos para: Apuí, Barcelos, Carauari, Eirunepé, Itacoatiara, Lábrea, Manicoré, Maués, Parintins, Santa Isabel do Rio Negro, Santo Antônio do Içá e São Gabriel da Cachoeira. Obras em Fonte Boa, Manaus, Tabatinga e Tefé.
Finalmente a região volta para a rota dos investimentos nacionais. Se tantos projetos serão executados ou virarão obras é uma incógnita, mas é maravilhoso estarmos na pauta de construções ao invés de destruições. O modal aéreo é muito interessante e um dos elos perdidos para a viabilidade de turismo no interior do Amazonas, pois o transporte apenas pelos rios transforma este turismo em algo lento, exótico e inviável para grandes massas. Com aeroportos no interior, surge uma nova dimensão de possibilidades.
O aeroporto sem atrações ou voos será insuficiente. Precisaremos de ações sistêmicas e já passou da hora de usar os recursos estaduais do FTI para o que ele foi concebido: turismo e interiorização. Há bastante o que ser feito para que os estudos sejam viáveis e gerem obras e para o que já é obra se transforme em frequências de voos. Há uma intensidade viável de voos de Manaus para o interior do Amazonas e, além disto, de voos entre Manaus e todo o Norte da América do Sul.
Os projetos que transformarão o aeroporto de Manaus em um concentrador de voos nacionais e internacionais poderão voltar para a pauta, a partir de decisões, em certa medida simples, mas que dependem do reconhecimento da importância da cidade como um centro industrial e turístico. Quando se pensa em um núcleo de madeireiras ou agrícola, este projeto não decolaria. Manaus é atrativa em si, mas precisa se colocar como um centro atenções, por sua indústria, sua cultura e seu entorno. Nossas potências e potenciais voltam para a pauta e o Novo PAC devolve ao Amazonas uma sensação de pertencimento do país, além do recolhimento dos impostos.
O desafio agora será trazer do plano para o Orçamento da União e de lá para as execuções de projetos. Há muito o que acontecer até este momento, mas a mudança de rota está clara e a oportunidade está posta. Precisaremos, como sociedade, ter atenção para que os próximos passos sejam trilhados no sentido de construir, pois haverá todo o tipo de entrave para levar o recurso para outras regiões do país, como vem sendo feito desde sempre.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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