“Dependerá da capacidade de sonhar e de construir os interesses maiores da região que precisa de infraestrutura, transcendendo interesses particularistas. A constituição de uma bancada parlamentar da Amazônia é o eterno desafio da região. Tenho a confiança que um dia chegaremos neste alvo e vivo a cada dia com a confiança que este dia está mais perto”.
Entrevista com Augusto César Barreto Rocha
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Brasil Amazonia Agora – A logística sempre foi o maior gargalo de competitividade da economia Zona Franca de Manaus, dizem uníssonos empresários do PIM. É possível remover este embaraço? Como?
Augusto César Barreto Rocha – Construindo infraestrutura. A solução é sabida, mas não enfrentada, nem endereçada. Temos um problema secular de projetos feitos e não realizados. Há uma falta de percepção sistêmica sobre este problema e a sua complexidade é relativamente elevada, pois são custos altos e que demandam uma grande preocupação e conjunto de ações para tratar com cuidado o meio ambiente, em conjunto com a construção dos grandes projetos que removerão esta deficiência.
BAA – A competitividade da ZFM esbarra na precariedade geral e do imobilismo dos envolvidos. Isso poderia ser resolvido com um percentual dos recursos depositados pelo Amazonas aos cofres da Receita? Por que não reivindicar essa saída?
Augusto César – Esta saída vem sendo reivindicada faz tempo. É só lembrarmos a questão da TSA que foi judicializada anos atrás. Os marcos legais já preveem que a redução das desigualdades regionais deve ser perseguida. A questão é que é um caminho tortuoso, que depende de muita vontade e capital político. Ademais, outras unidades da federação querem o mesmo recurso e aí a desculpa ambiental vira um ótimo motivador para levar os recursos de investimentos para o Sudeste, que já possui o maior estoque de infraestrutura do país.
BAA – Na relação academia e economia, você aponta os conflitos entre narrativas e interlocução. Como superar este paradoxo?
AC – A superação existirá quando os empresários locais começarem a se aproximar da academia local. O diálogo entre os “próximos”, com as mesmas culturas e histórias de vida semelhantes é muito mais fácil. A partir da criação deste fluxo de vitórias mútuas, começaremos a atrair outras empresas do país e daí as multinacionais em maior medida de capital. Aliás, as multinacionais são as que melhor aproveitam este diálogo e está na hora de termos uma proximidade maior das empresas locais e nacionais. O momento mais nacionalista que o mundo vive, neste (quase) pós-pandemia é interessante para isso. O grande desafio está nos empresários mostrarem as suas fragilidades e ajudarem na superação das fragilidades das academias. Por um lado, há uma deficiência institucional e de marcos regulatórios e por outro uma fragilidade de domínio tecnológico. Da mesma forma em que há fortalezas do conhecimento de suas necessidades e negócio, bem como do domínio tecnológico avançado. São questões muito complementares. Precisamos mais diálogo e união. Este é o grande problema do momento – uma tentativa de imposição de vontades, com pouca capacidade de audição.
BAA – Planejamento estratégico, lideranças empresariais e intensa interlocução política são expectativas ilusórias ou alternativas viáveis para avançar o programa ZFM?
AC – Completamente viáveis. Fora deste diálogo não há saída. E percebo muito boa-vontade por todos os lados – faltam pequenas centelhas para este diálogo se alastrar.
BAA – Educadores e cientistas se articulam para criar a bancada do conhecimento. E a bancada da Amazônia que benefícios nos traria?
AC – Infinitos. Dependerá da capacidade de sonhar e de construir os interesses maiores da região, transcendendo interesses particularistas. A constituição de uma bancada parlamentar da Amazônia é o eterno desafio da região. Tenho a confiança que um dia chegaremos neste alvo e vivo a cada dia com a confiança que este dia está mais perto. É mais ou menos assim: Infraestrutura competitiva é uma utopia que uma bancada parlamentar da Amazônia poderá, perfeitamente, antecipar e viabilizar.
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