Em entrevista ao Agro Estadão, a pesquisadora da FGV Agro, Talita Priscila Pinto, avaliou que o Brasil tem uma vantagem competitiva na produção sustentável de alimentos em relação a outros países, mesmo diante de crises climáticas
Na última semana aconteceu o Grupo de Trabalho de Agricultura (GT) do G20. O encontro trouxe à tona debates importantes sobre a sustentabilidade na produção de alimentos e o papel do Brasil no cenário internacional. A pesquisadora da FGV Agro, Talita Priscila Pinto, apontou que o país torna-se protagonista, uma vez que já possui tecnologias consolidadas que impulsionam uma agricultura mais sustentável, como o plantio direto e a fixação biológica de nitrogênio.
Embora o Brasil tenha dado passos significativos para tornar sua agricultura mais sustentável, eventos extremos, como secos e enchentes, são impactados diretamente na produção agrícola. No entanto, para a especialista, mesmo diante desse cenário, o país tem potencial de ser o líder global:
Dessa forma, o uso de tecnologias de baixo impacto ambiental, como o plantio direto, reduz a emissão de gases de efeito estufa e melhora a saúde do solo. Essa técnica, amplamente utilizada no Brasil, contribui para a captura de carbono e faz com que o país seja um exemplo global de agricultura sustentável.
Além disso, a segurança alimentar também foi um dos pontos centrais discutidos no GT do G20. Para Talita, o Brasil, como um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, tem um papel de destaque na garantia da oferta de alimentos em um cenário de instabilidade global. Isso acontece em razão da segurança alimentar estar diretamente ligada ao comércio internacional e do descompasso entre oferta e demanda mundial. A guerra entre Rússia e Ucrânia, que impactou as cadeias de suprimentos globais, reforça a importância do Brasil manter sua posição estratégica na exportação de commodities.
O ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, também avaliou a importância dos recursos financeiros para promover uma transição para sistemas mais sustentáveis. Ele destacou o papel do Banco Central na inserção de artigos sobre financiamento voltado à sustentabilidade no documento do G20 e pontou que é uma oportunidade para que o Brasil lidere com força a pauta ambiental no setor agroalimentar.
Agricultura familiar
Outro ponto de destaque foi o compromisso brasileiro com a agricultura familiar. O Brasil se compromete a fortalecer programas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que garante assistência técnica e crédito a pequenos agricultores. Para Talita, o apoio às cooperativas é crucial nesse processo. “Se eu puder falar um ponto é a força das cooperativas para trazer todo esse apoio de forma mais estruturada para esses produtores. Elas podem viabilizar uma diversidade de técnicas, políticas, inclusive de acesso ao crédito, para esses pequenos produtores, porque sozinhos eles não iriam conseguir”, afirmou.
A agricultura familiar desempenha um papel essencial na segurança alimentar interna, além de contribuir para a diversificação da produção. O fortalecimento desse setor é visto como um passo importante para equilibrar o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade.
Já em relação à inclusão da pesca e da aquicultura nas cadeias globais de produção, a pesquisadora destacou que o Brasil tem potencial para ampliar sua participação nesse setor, aproveitando as oportunidades de gerar renda para comunidades ribeirinhas e fornecendo uma fonte sustentável de proteína animal. Com isso, ela observa que o Brasil tem vastos recursos hídricos que podem ser melhor aproveitados para ampliar a produção de peixes e frutos do mar, além do setor ter um papel relevante na agenda de sustentabilidade e segurança alimentar.
Bioeconomia e transformação ecológica
O Brasil também possui um vasto potencial para se destacar na bioeconomia, especialmente devido à sua rica biodiversidade e recursos naturais. A proposta de transformação ecológica lançada pelo governo em 2023 reflete a urgência de estabelecer novas formas de produção que respeitem o meio ambiente.
Além das oportunidades econômicas, a bioeconomia oferece uma solução estratégica para a transição do país para uma economia de baixo carbono. O Brasil se posicionou como líder global nesse debate, especialmente durante sua presidência no G20, onde apresentou a proposta de criação de um megafundo internacional para a preservação das florestas. Com avanços em ciência, tecnologia e inovação, o país pode não apenas ampliar seu mercado interno, mas também se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável, exportando soluções para outras nações interessadas em adotar práticas mais verdes.
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