A nova fronteira da Inteligência Artificial e de seus hardwares de retaguarda precisam se somar aos esforços de preservação da Amazônia, fora disso precisaremos de muitas e muitas toneladas de agro para comprar poucos quilos de semicondutores. Precisamos percorrer as cadeias produtivas verdes e da microeletrônica e o Amazonas é um lugar interessante para esta tarefa.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Há uma oportunidade verde e tecnológica no Estado do Amazonas, que pode se espalhar por toda a Amazônia. A guerra dos chips, travada por EUA, China, Taiwan e Europa, com dezenas de bilhões de dólares de recursos investidos pelos governos para viabilizar a indústria de alta tecnologia dos semicondutores em seus territórios. Enquanto isso, nossos Editoriais da imprensa não especializada vociferam contra os incentivos para a retomada industrial e científica nacionais.
Na China, a maior parcela de importação, cerca de 24%, é decorrente de eletrônicos, o que inclui os semicondutores, ao mesmo que tempo em que a mesma categoria responde por 27% de suas exportações. Um volume crescente de veículos sai da China para o mundo, onde nos últimos três anos a sua produção mais do que triplicou e, nestes veículos, há cada vez mais microeletrônica embarcada
Chris Miller, em seu livro “A Guerra dos Chips”, lançado em português em 2023, analisa a delicada questão da geopolítica e do comércio global contemporâneo, onde apenas os EUA alocaram por uma Lei, cerca de US$ 52 bilhões para investimentos “grátis” em indústrias neste setor (se fosse no Brasil, isso arrepiaria os Editorialistas, nos EUA, foi celebrada por todo o espectro ideológico e aprovado com vasta maioria parlamentar).
No Japão, a startup Rapidus recebeu US$ 510 milhões em subsídios do governo japonês, a partir de agosto de 2022, em um consórcio de empresas incluindo Sony, Toyota, NTT e outras que estão tentando devolver ao Japão sua participação no setor, objetivando comercializar seus chips de 2nm até 2027, enquanto os modelos atuais estão em 3nm.
E o que a Amazônia possui de vínculo com tudo isto? Tudo. Já temos empresas chinesas, japonesas, norte-americanas e de outros países, em meio a uma floresta preservada. O posicionamento como o principal parque tecnológico nacional, por meio do Polo Industrial de Manaus, pode ser estratégico para o consumo destes semicondutores em meio ao desenvolvimento de produtos como drones e dispositivos eletroeletrônicos para o mercado das Américas, dialogando com facilidade com todos os continentes.
A Ásia é líder nas importações e exportações do Brasil, representando, respectivamente 41% e 48% de nossos negócios internacionais. Há o potencial de nos posicionarmos como uma plataforma exportadora que dialoga com todos, com a contrapartida de neutralizarmos os prejuízos associados com o risco de destruição da Amazônia. A Alta Tecnologia, tendo como contrapartida a proteção do verde da Amazônia poderia nos posicionar com uma indústria de maior valor agregado do que o erro do agroindustrial no Amazonas, que deixa em seu rastro uma destruição da natureza.
Podemos e devemos nos posicionar minimamente neste jogo e a cadeia produtiva da microeletrônica é constituída de uma fronteira do conhecimento que é mais fácil de ser atingida do que se pensa, desde que exista o arranjo industrial e científico adequados. A nova fronteira da Inteligência Artificial e de seus hardwares de retaguarda precisam se somar aos esforços de preservação da Amazônia, fora disso precisaremos de muitas e muitas toneladas de agro para comprar poucos quilos de semicondutores. Precisamos percorrer as cadeias produtivas verdes e da microeletrônica e o Amazonas é um lugar interessante para esta tarefa
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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