Os impactos dos conflitos armados na biodiversidade têm sido, por muito tempo, negligenciados
Uma reunião das Nações Unidas, organizada pela Colômbia, pode ser uma oportunidade de ouro para começar a mudar a forma como o impacto das guerras no meio ambiente é interpretado. É o que sugere um artigo publicado na revista Nature esta quarta (16), que se aprofunda na mensuração e reflexão acerca dos impactos ambientais de conflitos armados, como a guerra na Ucrânia.
A pesquisa sobre os efeitos dos conflitos armados nos ecossistemas tem sido limitada, mas, na última década, ferramentas como o uso de imagens de satélite, o monitoramento de redes sociais e outras fontes abertas de inteligência, além do crescente envolvimento das comunidades locais nas pesquisas, permitiram aos investigadores aprimorar o monitoramento do impacto dos conflitos armados em ambientes que são difíceis ou perigosos para se trabalhar.
Impacto das guerras na biodiversidade
Desde a invasão da Rússia em 2022, cerca de 3 milhões de hectares de áreas protegidas na Ucrânia foram afetados pelas atividades militares. Por exemplo, a análise independente feita pelos autores do estudo publicado na Nature, por meio de imagens de satélite, mostra que, no Parque Nacional Natural Sviati Hory (Montanhas Sagradas), no leste do país, 16% das áreas florestadas foram fisicamente danificadas por incêndios, bombardeios e movimentação de veículos militares. Áreas protegidas perderam seus funcionários e equipamentos e propriedades foram danificadas ou destruídas.
De modo geral, vários estudos mostram que a caça e o desmatamento ilegais frequentemente se aceleram durante e após conflitos — seja porque o governo e as instituições são enfraquecidas, ou porque os sistemas tradicionais de manejo desaparecem quando as pessoas são deslocadas. Da mesma forma, os conflitos podem aumentar a dependência das pessoas da madeira como combustível, impulsionando, assim, a exploração excessiva do meio ambiente como impacto das guerras.
COP16 pode ser importante para mudar o jogo
Neste mês, ministros do meio ambiente, conservacionistas, povos indígenas e outros se reunirão em Cali, Colômbia, a partir do próximo dia 21, para ajudar a transformar o quadro da biodiversidade durante a 16ª reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16). O país é um dos mais biodiversos do mundo e desde 2016 também tem enfrentado desafios na implementação de um acordo de paz assinado após cinco décadas de conflito armado, grande parte dele entre o governo e o movimento guerrilheiro das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
A Colômbia enfrentou um dos conflitos armados mais longos da América Latina, alimentado em grande parte por economias ilícitas baseadas em recursos naturais, como ouro e madeira, o que, por sua vez, prejudicou severamente a biodiversidade. Mesmo hoje, ecossistemas e comunidades locais, incluindo povos indígenas, afro-colombianos e campesinos (pequenos agricultores), continuam presos no meio desse cenário.
Conectando com as experiências do próprio povo colombiano, os organizadores da COP16 especificaram que a reunião deve ser “uma COP do povo” e que deve priorizar o propósito da “Paz com a Natureza“. Com isso, os participantes serão incentivados a focar os debates em como a exploração dos recursos naturais e os conflitos gerados a partir dela podem prejudicar a biodiversidade, além de explorar como as intervenções para proteger a biodiversidade podem ajudar a promover a paz.
Mais informações podem ser obtidas no artigo da Nature, em inglês, clicando aqui.
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