Estudos indicam que a diversidade de peixes na região amazônica está diretamente ligada à cobertura florestal, conectando a conservação dessa vegetação à segurança alimentar regional
O combate à fome e à desnutrição se torna um desafio crescente com o aumento populacional no planeta, estimado em 2 bilhões de pessoas ao longo das próximas quatro décadas. Entre as maiores ameaças à segurança alimentar dessa população, mas pouco debatida nos noticiários, está o desmatamento. Além de suas consequências para a saúde do planeta, como a redução da capacidade das florestas de capturar e armazenar carbono, o desmatamento agrava as mudanças climáticas, intensificando os impactos sobre populações vulneráveis e perda de biodiversidade.
Segurança alimentar e nutricional (SAN) refere-se ao acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade adequadas, garantindo o direito humano à alimentação sem comprometer outros direitos essenciais. Segundo a ONU, atualmente 45 milhões de pessoas enfrentam fome em 43 países, um número agravado desde 2019, com a pandemia de Covid-19 intensificando a insegurança alimentar. No Brasil, a situação também é preocupante: uma pesquisa de 2020 revelou que mais da metade dos 220 milhões de brasileiros enfrenta algum nível de insegurança alimentar.
A maneira como produzimos e consumimos alimentos é uma das prioridades da Agenda 2030, que lista os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em escala nacional, O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, é uma referência essencial para promover a segurança alimentar, sendo que uma de suas principais orientações é priorizar alimentos in natura ou minimamente processados na alimentação diária.
A relação intrínseca entre cobertura florestal e fome
Em análise publicada no The Conversation, destaca-se que a área da Amazônia Legal, os peixes são a principal fonte de proteínas para 38 milhões de pessoas, sendo que, em todo o estado do Amazonas, 92,5% dos adultos consomem peixe pelo menos uma vez por semana. Estudos indicam que a diversidade de peixes na região está diretamente ligada à cobertura florestal, o que torna preocupante a perda de 13% das florestas naturais da Amazônia desde 1985, segundo o Mapbiomas.
A disponibilidade e acesso a alimentos regionais, como os peixes amazonenses, garantem uma alimentação saudável, sustentável, local e alinhada às tradições culturais, fortalecendo a segurança alimentar nas comunidades. Contudo, o aumento da temperatura das águas, a extensão de áreas de cultivo e o impacto de pragas nessas áreas são fatores que, em conjunto, afetam a garantia de sucesso de atividades importantes em nível local, como a pesca.
Uma pesquisa publicada no Journal of Applied Ecology em 2018 revelou que o desmatamento contribui para a homogeneização das espécies de peixes, reduzindo a biodiversidade. Realizado em 462 áreas de várzea no estado do Pará, o estudo analisou um gradiente de cobertura do solo, desde regiões densamente florestadas até áreas altamente desmatadas, destacando o impacto significativo da perda de florestas nos ecossistemas aquáticos.
Medidas de conservação são a chave
Para mitigar os impactos ambientais e garantir a sustentabilidade futura dos biomas, pensando também na garantia de segurança alimentar às populações, é fundamental um compromisso sólido com a conservação da Amazônia. As áreas de várzeas, que desempenham um papel importante nos ecossistemas, enfrentam pressões semelhantes às do restante do mundo, sendo frequentemente desmatadas pela expansão agrícola, urbana e por grandes projetos de infraestrutura, como represas e estradas. Interromper essa destruição para proteger a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais da região, portanto, é essencial, segundo o artigo do Conversation.
Iniciativas de manejo comunitário dos recursos pesqueiros no Brasil têm demonstrado resultados positivos ao combinar segurança alimentar, conservação da biodiversidade e mitigação de impactos como a sobrepesca. Assim, expandir e implementar esses modelos pode ser uma saída para preservar o meio ambiente e garantir o sustento das comunidades amazônicas, promovendo um equilíbrio entre uso sustentável e conservação.
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