Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 — A Última Chamada

O planeta na encruzilhada

Na COP 30, realizada em Belém do Pará, a Amazônia foi colocada no centro do mundo. Entre aplausos protocolares e alertas dramáticos, mais de uma centena de cientistas — vindos dos principais centros de pesquisa do planeta — repetiram uma mesma mensagem, com dados e emoção: a destruição da Amazônia continua, e o tempo para revertê-la está se esgotando.

O Relatório de Avaliação da Amazônia 2025, (leia aqui avaliação completa), do qual Adalberto faz parte, síntese desse consenso científico, é mais do que um documento técnico. É um retrato de urgência. Mostra que o bioma mais importante do planeta, responsável por regular chuvas, armazenar carbono e abrigar uma teia viva de povos e espécies, está perdendo resiliência e se aproximando de um ponto de não retorno.

A floresta que cria chuva e vida

A ciência ecológica explica com clareza o que a intuição amazônica sempre soube: a floresta fabrica a própria chuva. Cada árvore é uma bomba biológica de água. Ela sua, evapora, respira. Esse processo de evapotranspiração — a soma do suor das folhas e da evaporação do solo — injeta bilhões de toneladas de vapor na atmosfera todos os dias.

Esse vapor se desloca em rios invisíveis pelos céus, fertilizando nuvens e garantindo até 30 % das chuvas que caem sobre o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil.

Estudos do INPA, USP e do mundo inteiro, confirmam que cerca de um terço da chuva que alimenta o Cerrado e a Mata Atlântica nasce na Amazônia. Quando a floresta é desmatada, a bomba d’água enfraquece. E quando ela para de bombear, as plantações murcham, as hidrelétricas sofrem e o clima do continente muda.

Essa conectividade ecológica — essa “hidrologia viva” que liga Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Sudeste — é o primeiro e mais delicado dos sistemas em risco. Se colapsar, o Brasil inteiro entrará em colapso climático.

AVALIACAO DA Amazônia
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A floresta que fala com a ciência e com a alma

A Amazônia é mais do que uma floresta: é uma biblioteca molecular e espiritual. Ali estão guardadas quase 40 mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1 300 de aves, 378 de répteis e 427 de anfíbios. Muitos desses seres são conhecidos apenas pelos povos originários, que há séculos descobrem, curam, testam e transmitem saberes que a indústria farmacêutica transformou — muitas vezes de forma injusta — em remédios globais.

Poderosos anestésicos, derivados de diversos répteis ou de vegetais, base química do ácidos diferenciados, surgem de princípios ativos utilizados por comunidades tradicionais. Esse é apenas um exemplo simbólico da conectividade sociocultural que os cientistas agora reconhecem como parte da “inteligência ecológica” da floresta.

Mas a floresta-mãe também sangra por obra desta civilização predatória. A degradação invisível — o fogo que se alastra sem manchete, o corte seletivo, o solo compactado — é hoje mais letal que o desmatamento raso, segundo estudo recente publicado na Nature Climate Change. Estima-se que, na Amazônia brasileira, a perda de carbono por degradação já supera em três vezes o volume liberado pelo desmatamento direto.

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Foto: Bergadder / Pixabay

Amazônia sob ataque: o crime, a política e o silêncio

Enquanto líderes mundiais discursam em Belém, dados de satélite mostravam que 6 288 km² de floresta foram derrubados entre agosto de 2023 e julho de 2024 — queda de 30 %, mas ainda equivalente a quatro cidades de São Paulo.

Por trás desses números, um enredo conhecido:

Grilagem

Mineração ilegal,

Madeira clandestina,

Garimpo em terras indígenas, e

Corrupção institucionalizada.


A Amazônia, denunciam pesquisadores da Carta de Belém, tornou-se refém de um consórcio entre crime organizado e negligência pública. E é justamente essa corrosão ética que transforma o bioma em epicentro de desequilíbrios globais.

A destruição das matas aproxima humanos de animais silvestres que abrigam patógenos endêmicos.

A cientista Sandra Rapon, da Fiocruz, alerta: “Cada hectare perdido aumenta a chance de novos vírus e pandemias.” A Amazônia é, portanto, também uma questão de saúde planetária.

A boa notícia — repetida com ênfase pelos cientistas — é que a floresta ainda pode ser salva. Mas é preciso agir já.

O climatologista Carlos Nobre comparou a situação a “uma corda bamba sobre o abismo”: a Amazônia pode colapsar se perder entre 20 % e 25 % de sua cobertura original — e já perdemos mais de 18 %. A Carta de Belém, documento-síntese das vozes científicas da região, pede compromissos concretos e mensuráveis:

Essas metas são viáveis — desde que haja vontade política, cooperação internacional e respeito à ciência.

A floresta como economia do futuro

A ciência já oferece o mapa do caminho: a bioeconomia amazônica simultaneamente à regeneração de áreas degradadas.
A bioeconomia se apoia em tecnologias limpas, inovação biológica e cadeias de valor que usam a floresta em pé como ativo e não como obstáculo.

Produtos florestais não madeireiros, fármacos, cosméticos, alimentos da sociobiodiversidade e créditos de carbono de integridade ambiental compõem um novo paradigma de riqueza. Mas essa transição só será real se acompanhada de educação, pesquisa local, infraestrutura e justiça social. Não se trata de “salvar árvores”, e sim de redefinir o modelo de desenvolvimento do Brasil.

As recomendações da ciência

A COP 30 expõe uma verdade desconfortável: não há futuro climático sem Amazônia. O bioma pulsa como coração verde do planeta, bombeando água, energia e vida para muito além de suas fronteiras.

Se ele parar, o planeta ferve. Se ele vive, o mundo respira.

“A natureza fala, mas nós precisamos voltar a escutá-la.” — Adalberto Val

O tempo é agora. E o agora é curto.

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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