ONG britânica Earthsight denuncia H&M e Zara por ligação com desmatamento ilegal e exploração trabalhista no Brasil, levantando questões sobre a autenticidade de suas certificações de algodão sustentável e provocando investigações independentes.
A Earthsight, uma ONG britânica, lançou acusações contra as marcas de moda H&M e Zara na quinta-feira (10), alegando que estas têm ligações com a destruição ambiental em grande escala, apropriação de terras, corrupção e violência no Brasil, relacionadas às suas cadeias de fornecimento de algodão. Estas alegações foram detalhadas em um relatório baseado em uma variedade de fontes, incluindo imagens de satélite, documentos judiciais, dados de transporte de mercadorias e investigações secretas.
Impacto ambiental e certificação
O relatório intitulado “Crimes da moda: gigantes europeus da moda vinculados ao algodão sujo no Brasil” reúne todas as provas coletadas pela Earthsight. Esta análise revela que 816 mil toneladas de algodão foram rastreadas até chegar a SLC Agrícola e o Grupo Horita, dois dos maiores conglomerados agroindustriais do Brasil, situados na região oeste da Bahia. As empresas em questão, geridas por famílias brasileiras, enfrentam acusações de práticas ilegais, incluindo corrupção e multas significativas por desmatamento ilegal, conforme exposto no relatório.
A Earthsight enfatizou que as atividades dessas empresas familiares ocorrem no Cerrado, uma área conhecida pela sua biodiversidade. O algodão produzido foi então enviado para oito indústrias têxteis asiáticas, que fornecem as grandes marcas de moda rápida, apesar de ostentar a certificação de “sustentabilidade” conferida pela entidade ‘Better Cotton’ (BC).
Acusações de trabalho em situação análogo escravo
Adicionalmente, Zara e H&M foram previamente implicadas em casos de trabalho análogo à escravidão. Um estudo divulgado em janeiro do ano passado pela Transform Trade, em colaboração com a Escola de Negócios da Universidade de Aberdeen, criticou a indústria da moda por remunerar insuficientemente os trabalhadores, situando Zara, H&M, Gap, Next e Primark entre as marcas acusadas de práticas comerciais injustas e de subpagamento aos seus fornecedores.
No cenário brasileiro, a Justiça determinou que a empresa de origem espanhola, foi responsável por um incidente de trabalho análogo à escravidão em sua cadeia produtiva em 2011. Naquela ocasião, a Zara tentou desvincular-se da responsabilidade, atribuindo-a à confecção AHA, seu fornecedor.
Poluição e desmatamento na moda
A indústria da moda, conhecida por ser uma das maiores fontes de poluição global, contribui com cerca de 10% das emissões totais de CO2 no mundo. No que tange ao desmatamento no Brasil, um extrato do relatório da Earthsight critica as práticas das empresas H&M e Zara, apontando que, apesar de se apoiarem no algodão fornecido por agricultores certificados pela Better Cotton, ainda existem “profundas lacunas” no sistema de certificação.
Respostas das empresas e auditorias
Em resposta às acusações, a Inditex, empresa que controla a Zara, expressou à AFP que as práticas mencionadas, como a usurpação de terras e o desmatamento, são estritamente proibidas pelas políticas da Better Cotton, e solicitou urgentemente os detalhes da investigação independente. A H&M, por outro lado, comunicou à AFP que está seriamente preocupada com os achados do relatório da Earthsight e destacou seu compromisso com o uso de algodão proveniente de fontes orgânicas, recicladas ou sustentáveis, mantendo diálogo próximo com a Better Cotton. Finalmente, a Better Cotton anunciou que contratou um auditor independente para realizar inspeções mais rigorosas, seguindo as revelações feitas no relatório da Earthsight.
Com informações do G1 e do ICL
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