“…o guaraná lidera os inumeráveis formatos de aproveitamento e mimetização do banco genético da floresta e suas infinitas possibilidades de Bioeconomia. Sua exploração inovadora e sustentável agrega outras frutos e iniciativas bioenergéticas e refrescantes como faz o Guaraná Magistral há 80 anos.”
Por Igor Lopes
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Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo IDESAM e demais iniciativas nesta área, como o PPA (Parceiros pela Amazônia) das empresas do Polo Industrial de Manaus ligadas aos Estados Unidos, e da Aceleradora 100+ estão entre os cada vez mais numerosos arquivos de Bioeconomia na web. Com frequência, em parte por sua relevância cultural e simbólica, o guaraná, fruto sagrado e emblemático das etnias Saterê-Mawé, tem se revelado uma fonte promissora para iniciativas de bioeconomia que buscam conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental. Vamos aqui destacar este exemplo, entre outras oportunidades que emergem da valorização do guaraná e outras iniciativas na Amazônia, destacando programas de aceleração bem sucedidos que dão suporte às metas públicas de sustentabilidade.
A incorporação de inovações tecnológicas na cadeia produtiva do guaraná não apenas impulsiona a bioeconomia na região de Maués, mas também promove a preservação cultural e ambiental. Essas inovações abrem caminho para um modelo de desenvolvimento que é econômica, social e ambientalmente sustentável, alinhado com os valores e necessidades das comunidades locais e desses novos mercados – que são cada vez mais – globais. Ao valorizar o guaraná, não apenas como um produto agrícola e agroecológico mas como um recurso bioeconômico estratégico, podemos destacar o papel essencial da Amazônia e de suas comunidades na promoção de um futuro mais sustentável.
A Embrapa, Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária, há três décadas, tem focado no desenvolvimento de variedades de guaranazeiro por meio de técnicas de melhoramento genético, incluindo a expansão biotecnológica no teor de guaraína e tudo mais que o mercado demanda e que pode resultar em plantas com maior resistência a pragas e doenças, além de melhorar o teor de outros componentes a serviço de outros compostos benéficos. Essas inovações contribuem para a sustentabilidade da produção e a qualidade do produto.
A empresa Urucuna, liderada por Júlia Tatto, por sua vez, ilustra a potencialidade de negócios que aliam valorização biocultural e dinamização econômica, focando em consumidores conscientes sobre a importância da floresta. Com a produção de velas aromatizantes com essências amazônicas, e agora se expandindo para velas de massagem, a startup mostra como produtos inovadores e sustentáveis podem encontrar mercado, especialmente no nicho de brindes corporativos com propósitos socioambientais.
São registros de novos empreendedores que deixaram carreiras convencionais para apostar em empreendimentos que refletem seus valores socioambientais, e evidenciam um crescente movimento de empreendedorismo que busca harmonizar lucro e responsabilidade ambiental. A estratégia de desenvolver produtos com maior margem de lucro, em colaboração com fornecedores locais, respeitando a realidade amazônica, sinaliza para a viabilidade de negócios sustentáveis que podem escalar sem comprometer seus valores.
Este caso também ressalta a importância de iniciativas de aceleração e aporte financeiro para startups que propõem soluções inovadoras para desafios sociais e ambientais. O apoio da Ambev, através de mentoria, treinamento e financiamento, é fundamental para transformar ideias empreendedoras em projetos de negócios sustentáveis que contribuem para a conservação da floresta e o bem-estar das comunidades locais.
O exemplo da Urucuna e do programa de aceleração da Ambev demonstram o potencial da bioeconomia na Amazônia, onde o guaraná e outras iniciativas podem liderar uma nova era de negócios que são ambientalmente responsáveis, socialmente justos e economicamente viáveis. Essas experiências reforçam a convicção de que é possível, e cada vez mais necessário, integrar a conservação da natureza com o progresso econômico, promovendo um futuro mais sustentável para a Amazônia e para o planeta.
A incorporação de práticas sustentáveis e a valorização do conhecimento tradicional nas estratégias de negócios da Urucuna representam um modelo inspirador de como a bioeconomia pode ser uma alavanca para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Através de suas parcerias com Organizações da Sociedade Civil locais e a adesão à rede Origens Brasil, a Urucuna enfatiza a importância do comércio justo e da sustentabilidade em todas as etapas de sua cadeia produtiva.
A participação na Aceleradora 100+ significou um ponto de virada na forma como a startup enxerga seu negócio, transformando-o em uma metodologia de trabalho que incorpora a sustentabilidade como um pilar central. A colaboração com 40 artesãos de oito povos indígenas e o fortalecimento de práticas sustentáveis exemplificam o compromisso da Urucuna com a conservação da biodiversidade e a valorização cultural. A produção e o repasse financeiro consciente para os fornecedores da região demonstram um modelo de negócio que beneficia diretamente as comunidades locais, promovendo a conservação de 23 milhões de hectares de floresta.
A parceria com a Associação de Artesãos Unidos para Vencer da comunidade Menino Deus de Maués e a produção de velas utilizando conhecimentos tradicionais são estratégias que respeitam e valorizam o modo de vida amazônico. Esse modelo de produção não só contribui para a diversificação econômica das comunidades locais, mas também oferece produtos únicos que contam histórias e promovem a conservação ambiental.
A colaboração com o programa Cidades Florestais do Idesam e a inovação na produção de embalagens artesanais exemplificam como a Urucuna integra o conhecimento tradicional e a sustentabilidade ambiental em seu modelo de negócio. A utilização de materiais naturais e biodegradáveis, como o caroço de tucumã, o ouriço da castanha-do-brasil e o cipó ingá, na confecção de embalagens, destaca a busca da startup por soluções inovadoras e sustentáveis que agregam valor estético e ambiental aos seus produtos.
A exploração de óleos e manteigas amazônicos inexplorados para aromaterapia e cosméticos, assim como a potencial inclusão do guaraná nas formulações das velas, ilustram a busca constante da Urucuna por inovação e diversificação de produtos que respeitem a biodiversidade e os saberes locais. Essas iniciativas não apenas promovem a sustentabilidade ambiental, mas também abrem novos caminhos para o desenvolvimento de produtos que podem alcançar mercados nacionais e internacionais, valorizando os recursos naturais e culturais da Amazônia.
Este modelo de negócio, que integra sustentabilidade, inovação e valorização cultural, serve como exemplo para outras empresas e startups que buscam contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ao alinhar práticas econômicas com a conservação ambiental e a valorização das comunidades tradicionais, iniciativas como a da Urucuna demonstram que é possível criar um futuro mais sustentável e justo para a região amazônica.
Em suma, a Bioeconomia está no DNA empreendedor da Amazônia desde o Ciclo das Ervas do Sertão e do Ciclo da Borracha. Neste momento de transição para a diversificação, adensamento e interiorização dos benefícios do Polo industrial de Manaus, o guaraná lidera os inumeráveis formatos de aproveitamento e mimetização do banco genético da floresta e suas infinitas possibilidades de Bioeconomia. Sua exploração inovadora e sustentável agrega outras frutos e iniciativas bioenergéticas e refrescantes como faz o Guaraná Magistral do Amazonas há 80 anos.
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