“Para que a Amazônia prospere diante dos episódios extremos de mudança climática e de invasão das grandes potencias econômicas , é necessário protagonismo político que ampare um desenvolvimento com sustentabilidade. E que priorize a proteção da floresta como viabilidade de promoção das pessoas que nela habitam. Essa visão, mais do que nunca, deve guiar as ações de governos, empresas e sociedade civil. Ou então…”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A Amazônia tem sido historicamente uma interrogação no imaginário universal. Hoje, palco de debates urgentes sobre desenvolvimento, preservação ou sobrevivência do bioma, mais uma vez é vista como um espaço de conflito entre progresso socioeconômico e desafios da sustentabilidade. Em 1992, durante o Fórum Global da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, Samuel Benchimol apresentou uma visão que continua a ser paradigmática para a região: o desenvolvimento na Amazônia deve ser economicamente viável, socialmente justo, politicamente correto e ambientalmente sustentável.
Ao refletirmos sobre essa proposta, é imprescindível integrá-la às quatro características críticas que identificamos como premissas e desafios para a adoção da sustentabilidade na Amazônia: a complexidade do bioma, a vulnerabilidade social, a inserção periférica no sistema econômico global e a constante pressão para o desmatamento.
Viabilidade econômica e a necessidade de valorizar a floresta em pé
Benchimol afirmava que o desenvolvimento econômico da Amazônia deveria ser viável, mas sem comprometer a floresta. Atualmente, o conceito de bioeconomia surge como uma estratégia promissora que alia a exploração responsável dos recursos naturais à geração de riqueza. No entanto, a complexidade do bioma amazônico, como se vê, representa um desafio significativo. A criação de cadeias produtivas sustentáveis, que respeitem a biodiversidade e, ao mesmo tempo, integrem a região ao mercado global, é dificultada por uma série de fatores, como as limitações logísticas e a inserção periférica da Amazônia na economia mundial. Apesar desses obstáculos, a bioeconomia apresenta-se como um caminho viável, desde que respeitemos as especificidades locais.
Justiça social e a vulnerabilidade das comunidades amazônicas
Um dos pilares defendidos por Benchimol é a justiça social, que, diante das mudanças climáticas, torna-se cada vez mais relevante. A vulnerabilidade das populações tradicionais, como indígenas e ribeirinhos, deve ser levada em conta em qualquer estratégia de desenvolvimento. As comunidades que habitam a Amazônia estão na linha de frente das consequências das crises ambientais, sofrendo com secas extremas, cheias e a degradação de seus recursos naturais.
O desenvolvimento sustentável, conforme Benchimol propunha, precisa garantir que essas populações não sejam apenas beneficiadas, mas também tenham suas capacidades de resiliência fortalecidas. A vulnerabilidade social que aponto como característica central da região agrava-se com os eventos climáticos extremos, tornando essencial a inclusão dessas comunidades em soluções econômicas que respeitem suas tradições e potencialidades.
Correção política e a governança ambiental impávida ante o desmatamento
Outro desafio crítico que salta aos brios é a pressão constante para o desmatamento, que coloca em xeque as tentativas de desenvolvimento sustentável. Para Benchimol, a correção política exigia que os governos implementassem políticas justas e equilibradas, capazes de proteger a Amazônia de práticas predatórias. No entanto, a pressão por desmatamento e exploração ilegal de recursos continua a ser uma das maiores ameaças à floresta. Políticas de governança mais eficazes, que punam com rigor o desmatamento ilegal e incentivem práticas produtivas sustentáveis, são decisivas para que a correção política proposta por Benchimol se concretize. Sem isso, a destruição contínua da floresta inviabiliza qualquer projeto de sustentabilidade.
Sustentabilidade ambiental e o combate às mudanças climáticas
Por fim, o pilar da sustentabilidade ambiental, central no pensamento de Benchimol, enfrenta desafios ainda maiores no contexto atual de mudança radical do clima. A Amazônia, como é encarada, encontra-se em uma posição periférica na economia global, sendo muitas vezes vista como fonte de recursos para abastecer mercados distantes. O desenvolvimento sustentável da região, no entanto, só será possível se o Brasil e o mundo reconhecerem o valor da floresta em pé como um ativo ambiental insubstituível. A pressão econômica global precisa ser revertida em compromissos claros de proteção ambiental, de modo que as futuras gerações possam usufruir dos serviços ambientais prestados pela Amazônia.
Priorizando as pessoas
Ao combinar o paradigma proposto por Samuel Benchimol com as quatro características que identificamos como fundamentais para o desenvolvimento sustentável da Amazônia — a complexidade do bioma, a vulnerabilidade social, a inserção periférica e a pressão para o desmatamento —, torna-se evidente que os desafios são imensos e interconectados.
Para que a Amazônia prospere diante dos episódios extremos de mudança climática e de invasão das grandes potencias econômicas , é necessário protagonismo político que ampare um desenvolvimento com sustentabilidade. E que priorize a proteção da floresta como viabilidade de promoção das pessoas que nela habitam. Essa visão, mais do que nunca, deve guiar as ações de governos, empresas e sociedade civil. Estas teclas percorrerão a guerra na floresta de Samuel Benchimol, um pouco antes além depois.
Alfredo é filósofo, foi professor por muitos anos na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, quando voltou para sua terra natal e hoje é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal BrasilAmazôniaAgora
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