“Portanto, ao virar essa chave, a Amazônia não apenas desbloqueia seu próprio potencial econômico, mas também serve como um modelo global de como desenvolvimento e conservação podem coexistir harmoniosamente. É uma lição vital em uma era de desafios ambientais crescentes, mostrando que o caminho para a prosperidade pode e deve estar alinhado com a conservação da vida em todas as suas formas de sustentabilidade”
Por Alfredo Lopes
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Todo dia será a celebração da Amazônia, e sempre será quando a sustentabilidade de sua gestão alcançar a prosperidade de seus habitantes. Por isso, este é momento oportuno para refletir sobre a verdadeira riqueza que emana das entranhas desta região monumental. Enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Amazônia ainda reflete grandes desafios, há uma luz no fim do túnel que vem sendo acesa pela bioeconomia, um modelo econômico que promete não apenas preservar a biodiversidade, mas também transformá-la em motor de desenvolvimento sustentável.
A região Amazônica, reconhecida como a mais biodiversa do planeta, se vê agora no centro de suas potencialidades, uma revolução verde, onde a inovação e a economia caminham lado a lado. Um exemplo emblemático desse movimento. Aplausos para a inovação introduzida pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), gerenciado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) com o apoio incessante da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
Pedais de Bicicleta de Bioplástico de Açaí
Numa colaboração única entre a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a OX da Amazônia, o resíduo do açaí, até então descartado pelas agroindústrias, encontrou uma nova utilidade: a fabricação de pedais de bicicleta. Esse projeto não apenas abriu um novo mercado para os insumos da biodiversidade, mas também posicionou o açaí em um segmento industrial nunca antes imaginado.
O bioplástico amazônico confere novos atributos às bicicletas, para além da mobilidade urbana e busca de uma vida saudável. A iniciativa representa uma solução contra a poluição plástica, com geração de renda e menor emissão de carbono, porque a garantia de fornecimento do insumo vegetal depende da floresta bem conservada.
Novos caminhos do PIM
David Peterle, CEO da OX, destaca o diferencial que a região oferece. Aproveitando os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, sua empresa vem competindo no mercado global, enquanto contribui significativamente para o combate ao desmatamento e à poluição plástica. Com planos de expansão para o mercado internacional em 2025, a marca OX de bicicletas simboliza, no Polo Industrial de Manaus, novos caminhos, uma nova fase de industrialização que respeita e valoriza os recursos naturais da Amazônia.
Agroindústria de olho na sustentabilidade de resíduos
O sucesso deste empreendimento não está isolado. Ele exemplifica como a bioeconomia pode conectar setores distintos: da produção extrativista na floresta, passando pela agroindústria, até alcançar a manufatura de produtos finais. A startup AGflech, liderada pelo químico Genilson Santana, é uma peça chave nesse processo, ao transformar resíduos em oportunidades, alinhando-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Estratégias de crescimento e Sustentabilidade
Com um faturamento que superou US$ 35 bilhões em 2023, o Polo Industrial de Manaus é a espinha dorsal da economia local. No entanto, é crucial que essa região evolua para além dos incentivos fiscais, adotando modelos de negócios que integrem mais profundamente a bioeconomia. Iniciativas como o licenciamento da tecnologia de bioplásticos para outras empresas da Amazônia mostram como a sustentabilidade pode ser escalável e replicável.
Desafios e oportunidades
É preciso conhecer, prestigiar e apoiar! Apesar dos avanços, há desafios significativos. A necessidade de maior apoio público, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e a construção de uma infraestrutura que suporte essa nova economia são essenciais. Carlos Koury, coordenador do PPBio, ressalta a importância de uma estratégia robusta que não apenas valorize o território, mas também gere uma economia capaz de evitar o desmatamento. “A floresta em pé é nossa fonte inesgotável de prosperidade”.
Alternativa e necessidade
A bioeconomia na Amazônia é mais do que uma alternativa; é uma necessidade urgente e uma oportunidade brilhante. Alinhando inovação, sustentabilidade e desenvolvimento econômico, a região pode finalmente alterar as métricas de seu desenvolvimento humano, oferecendo uma vida melhor para suas comunidades, enquanto mantém sua biodiversidade florescente. Este é o caminho para uma prosperidade que respeita e celebra a diversidade inata da Amazônia.
Política pública do abraço
Com cada inovação e cada parceria estabelecida, a Amazônia demonstra que é possível gerar renda e preservar o meio ambiente simultaneamente. Uma árvore, um fruto, suas propriedades guarda, surpresas e soluções que dependem da política pública do abraço. Sim, é preciso abraçar, acolher, assumir e exaltar a Amazônia. Essa é a verdadeira essência da bioeconomia: uma economia que não extrai de forma insustentável, mas que utiliza os recursos naturais de maneira responsável e regenerativa.
Açaí, castanha, mandioca…
A medida que projetos como o de bioplásticos derivados de açaí, dos resíduos do beneficiamento da castanha – comprovadamente portadores dos mesmos bioativos da sagrada e excelsa noz – ganham escala, e iniciativas como a de embalagens biodegradáveis feitas de fécula de mandioca e se expandem, fica claro que o desenvolvimento sustentável é a saída. E pode ser um vetor de crescimento econômico e inovação tecnológica. A chave para o sucesso contínuo será a colaboração entre governos, indústrias e comunidades locais, garantindo que os benefícios da bioeconomia sejam amplamente distribuídos e que a integridade ecológica da Amazônia seja preservada para gerações futuras.
A era dos desafios
Portanto, ao virar essa chave, a Amazônia não apenas desbloqueia seu próprio potencial econômico, mas também serve como um modelo global de como desenvolvimento e conservação podem coexistir harmoniosamente. É uma lição vital em uma era de desafios ambientais crescentes, mostrando que o caminho para a prosperidade pode e deve estar alinhado com a conservação da vida em todas as suas formas de sustentabilidade.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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