Mesmo após um ano de ações emergenciais para conter a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami (TIY), voos ilegais continuam a ser uma ameaça constante. Segundo o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal (PF), Humberto Freire de Barros, esses voos são essenciais para o tráfico de armas e suprimentos, além de facilitar a retirada de ouro e minérios extraídos ilegalmente.
Durante uma entrevista exclusiva à Agência Brasil, Barros confirmou que os voos ilegais ocorrem diariamente dentro do território, com base em monitoramentos e levantamentos de inteligência realizados pela PF. “Há registros diários de voos ilegais. Temos filmagens e postagens de garimpeiros em redes sociais, incluindo um incidente em novembro passado, em que sobrevoaram uma comunidade indígena isolada Moxihatëtë”, revelou
O diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, Humberto Freire de Barros – José Cruz/Agência Brasil
Apesar do esforço da Força Aérea Brasileira (FAB) em intensificar o controle do espaço aéreo no início do ano passado, Barros enfatiza a necessidade de um controle mais efetivo. Não foram divulgadas informações detalhadas sobre as operações, como o número de aeronaves interceptadas. A FAB, em nota, mencionou apenas uma operação de apoio logístico recente para a distribuição de cestas de alimentos entre 17 de janeiro e 31 de março de 2024.
Estevão Senra, geógrafo e analista do Instituto Socioambiental (ISA), aponta que, embora muitos garimpeiros tenham deixado a área após as ações governamentais do primeiro semestre do ano passado, alguns retornaram no segundo semestre, enfraquecendo as ações de controle do espaço aéreo. Senra questiona a eficácia e a estratégia da FAB, destacando a dificuldade em controlar uma área tão extensa
Com quase 10 milhões de hectares, a TIY é a maior terra indígena do Brasil, abrigando cerca de 27 mil pessoas, de acordo com o Censo 2022 do IBGE. Durante o pico da atividade garimpeira recente, especialmente entre 2018 e 2022, a população extra era estimada em 20 mil pessoas, entre garimpeiros e envolvidos com atividades ilegais.
Um relatório de julho do ano passado, lançado por três associações indígenas, alertava para o retorno dos garimpeiros ao território, apesar de uma redução de 85% na atividade garimpeira, indicada por um sistema de satélites da PF. O relatório ressalta a persistência de alguns núcleos de exploração e o retorno de grupos de garimpeiros
Terra Indígena Yanomami, Brasil
A luta contra as atividades ilegais na Terra Indígena Yanomami (TIY) tem mostrado progressos significativos, conforme relata o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal (PF), Humberto Freire de Barros. Apesar da persistência do garimpo em cerca de 15% dos níveis observados no fim de 2022, a PF realizou 13 grandes operações, resultando em quase R$ 600 milhões em apreensões e bloqueios financeiros de mais de R$ 1,5 bilhão.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também tem sido ativo, realizando 205 vistorias em pistas de pouso e embargando 31 delas. As apreensões incluíram 34 aeronaves, 362 acampamentos, e quantidades significativas de equipamentos e minérios
Força Aérea Brasileira apoia ações de distribuição de cestas de alimentos na Terra Indígena Yanomami – Divulgação FAB
Recentemente, o governo federal anunciou a construção de uma estrutura permanente na TI Yanomami, incluindo três novas bases logísticas, ampliando os esforços para combater a entrada ilegal de garimpeiros e proteger os povos indígenas.
No aspecto da saúde indígena, a situação na TIY mostra melhorias. Júnior Hekurari Yanoami, líder indígena no polo de Surucucu, destacou o papel crucial da assistência federal, que evitou uma tragédia maior. Apesar da retomada da assistência em muitas áreas, ele aponta que ainda existem comunidades não assistidas, principalmente devido à presença de garimpeiros. O polo base Caianaú, por exemplo, ainda enfrenta grandes desafios.
O Ministério da Saúde reporta investimentos significativos na região, com um aumento de 122% em comparação ao ano anterior, totalizando mais de R$ 220 milhões. Houve um aumento de 40% no número de profissionais de saúde, reabertura de sete polos-base, e a recuperação de 307 crianças com desnutrição grave ou moderada.
Embora os números de óbitos entre os indígenas tenham diminuído em 2023 em comparação com 2022, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, reconhece que a crise humanitária na TI Yanomami ainda está longe de ser resolvida, apesar dos esforços contínuos do governo federal
*Com informações Agência Brasil
Comentários