Nos últimos anos, a questão da mineração ilegal o garimpo e seu impacto devastador nas terras indígenas e na flora e fauna locais vem ganhando destaque nos discursos públicos. Em especial, a comunidade Yanomami tem sido uma voz ativa em denunciar os estragos ambientais e sociais causados por garimpeiros invasores.
Em 2022, foi evidenciado um crescimento acelerado da atividade garimpeira, com destaque para a Amazônia, onde a atividade avançou sobre 35 mil hectares, uma expansão comparável à extensão da cidade de Curitiba. Segundo dados recentes do MapBiomas, quase toda essa expansão (92%) se concentra na região amazônica.
O povo Yanomami trouxe a público inúmeras denúncias sobre a contaminação dos peixes de suas reservas por mercúrio, uma substância tóxica utilizada na separação do ouro dos demais sedimentos.
A violência infligida às comunidades indígenas não se limita apenas à destruição ambiental. Eles enfrentam abusos sexuais, estupros e assassinatos, uma narrativa de desolação alimentada pelo crescente garimpo na região.
O panorama se torna ainda mais preocupante com a proximidade da votação do Projeto de Lei (PL) 191/20 pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que visa viabilizar a exploração garimpeira em terras indígenas, uma prática atualmente proibida. A proposta, se aprovada, poderia legitimar a operação de empresas clandestinas que se proliferaram na região durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. O relatório do MapBiomas destaca um aumento de 265% na exploração em terras indígenas em 2022, com 40,7% da área garimpada no estado do Amazonas surgindo nos últimos cinco anos.
As consequências da atividade garimpeira são severas e multifacetadas. Exemplificam-se em danos como o assoreamento de rios, alterações em seu leito, poluição do solo e das águas, criando cicatrizes profundas no ambiente. Um retrato histórico desse impacto é a Serra Pelada, no Pará, onde o que já foi o maior garimpo do Brasil, hoje se revela como uma cratera de 24 mil m2, com água contaminada por mercúrio.
As áreas mais afetadas pela atividade garimpeira, segundo imagens de satélite, são as bacias dos rios Tapajós, Teles Pires, Jamanxim, Xingu e Amazonas, somando 66% da área garimpada do país. A persistência do garimpo em regiões proibidas é um testemunho do apoio econômico e político que a atividade recebe, conforme apontado por César Diniz, coordenador técnico do mapeamento de mineração do MapBiomas.
Este é um momento crítico para a política ambiental brasileira, onde a decisão de permitir ou restringir a mineração em terras indígenas pode definir o rumo da preservação ambiental e dos direitos indígenas no país. A história dos Yanomami e de outras comunidades indígenas sublinha a necessidade urgente de uma revisão cuidadosa e consciente das práticas de mineração e das políticas que as sustentam.
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