No coração da Amazônia, uma pequena comunidade extrativista está abrigando um projeto revolucionário: o Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), operado pelo Instituto Amazônia 4.0. Em um campo cercado de mata, três domos geodésicos alimentados por energia solar formam um laboratório dedicado à produção de chocolates finos e outros derivados do cacau e do cupuaçu, seguindo princípios de sustentabilidade.
Este projeto pioneiro visa não apenas preservar o modo de vida tradicional, que ajuda a manter a floresta em pé, mas também melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. Normalmente, estas comunidades vendem matéria-prima como commodities, com pouca ou nenhuma participação nos lucros gerados pela industrialização desses produtos. O LCA busca mudar essa realidade, permitindo que essas populações se beneficiem da criação de produtos com maior valor agregado.
Ismael Nobre, diretor executivo do Instituto Amazônia 4.0, destaca a importância do projeto diante das condições desafiadoras da região. “Apesar de haver bolhas de prosperidade, a Amazônia ainda enfrenta condições extremamente difíceis, com falta de energia, saneamento e assistência médica, como evidenciado na tragédia dos Yanomâmis”, afirma.
O projeto teve início na reserva extrativista Tapajós Arapiuns em outubro deste ano, e planeja expandir para outras comunidades, incluindo o assentamento PA Moju 2, a comunidade quilombola Moju-miri e a ribeirinha de Acará-açu, próximas a Belém, Pará. O objetivo é testar o laboratório em diferentes tipos de comunidades amazônicas — quilombolas, ribeirinhos e moradores de reservas extrativistas — para demonstrar a viabilidade de um novo modelo de negócio que alia preservação ambiental e desenvolvimento social
Princípio de acessibilidade norteou o surgimento do laboratório, que busca adaptar o processo de produção e venda de chocolates à realidade Amazônica, marcada pelo isolamento e baixa escolaridadeFoto: Francisco Maia| Amazon 4.0
Inovação na Amazônia: transformando comunidades com produção de chocolate sustentável
Em Surucuá, no coração da Amazônia, uma iniciativa pioneira está mudando a vida de pequenas comunidades extrativistas. O Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), projeto do Instituto Amazônia 4.0, chegou à reserva extrativista Tapajós Arapiuns, transformando a economia local baseada na venda de polpa de cupuaçu e cacau. Dez membros de associações e cooperativas locais participaram de uma capacitação de seis semanas, aprendendo a produzir chocolates finos e cupulate (chocolate de cupuaçu), além de receberem treinamento em comercialização e gestão de negócios.
Ismael Nobre, diretor executivo do instituto, ressalta o potencial do cacau e cupuaçu na geração de valor econômico significativo para a região. “Nossos estudos mostram que o cacau e o cupuaçu são subutilizados na Amazônia. Transformá-los em produtos de alto valor agregado, como chocolate fino, pode ser um divisor de águas para estas comunidades”, explica.
Além da fabricação, o projeto incluiu prototipação 3D e design de produtos, sob orientação de profissionais chocolatiers. Três representantes das comunidades até visitaram fábricas de chocolates em São Paulo para ampliar sua visão e experiência.
Ismael destaca os desafios da produção industrial na Amazônia, como a falta de energia confiável, água potável e dificuldades logísticas. No entanto, as tecnologias da quarta revolução industrial, como energia solar, filtros avançados para água e internet via satélite, estão superando esses obstáculos. “Com essas tecnologias, o sonho de uma economia de valor agregado na Amazônia está se tornando realidade”, afirma
Proposta é que comunidades possam trabalhar com matérias primas que já fazem parte da sua economia local, e não que busquem matéria-prima do entorno, relegando outras comunidades à função exclusiva do fornecimento – Foto: Francisco Maia| Amazônia 4.0
A automação é outra chave para o sucesso. O projeto desenvolveu um forno automatizado para torrar cacau, facilitando o processo e garantindo a qualidade do produto final. “Queremos democratizar a produção de chocolates, permitindo a participação de muitas pessoas, independentemente de suas habilidades técnicas”, diz Ismael.
Essa abordagem inovadora não apenas melhora a qualidade de vida das comunidades locais, mas também abre um novo caminho para a sustentabilidade na Amazônia, valorizando a biodiversidade local e incentivando práticas que mantêm a floresta em pé.
Laboratório criativo amazônico: rumo a um novo modelo de negócios sustentáveis
O Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), uma iniciativa inovadora do Instituto Amazônia 4.0, busca transformar a realidade econômica das comunidades amazônicas através da produção de chocolates finos e derivados de cacau e cupuaçu. Com o sucesso do projeto piloto na reserva extrativista Tapajós Arapiuns, o objetivo agora é expandir para a implementação de “biofábricas 4.0” – instalações maiores, autossuficientes e de fácil montagem, que prometem mudar o modelo econômico regional.
Ismael Nobre, diretor executivo do instituto, explica que essas biofábricas são projetadas para se adaptar às condições únicas da Amazônia, evitando custos proibitivos e infraestrutura complexa. Com uma montagem rápida e funcional, elas representam um salto significativo na capacidade de produção local.
O laboratório itinerante, que já começou a fazer a diferença nas comunidades, serve como um precursor para esse sonho maior. “Antes de fazer o investimento em uma fábrica maior, é crucial que as comunidades adquiram know-how e testem a aceitação do mercado”, diz Ismael. A visão é que as biofábricas operem dentro da “economia real”, impulsionadas não só por doações, mas também por investimentos viáveis e lucrativos, oriundos de capital privado, filantropia e recursos governamentais
Tecnologia e automação permitem que padrões de qualidade sejam alcançados e mantidos
O projeto é elaborado para favorecer o empreendedorismo cooperativo e associativista, que se alinha mais com a realidade das comunidades tradicionais da Amazônia do que modelos empresariais urbanos. Além disso, a ideia é que as fábricas funcionem como um serviço comunitário, promovendo inclusão e desenvolvimento local.
Um desafio chave para o projeto é a comercialização dos produtos. A solução encontrada é combinar a produção de várias comunidades, criando uma escala suficiente para acessar mercados maiores. “Podemos ter várias comunidades produzindo sob uma marca comum, aproveitando a parametrização e rastreabilidade da produção e as plataformas de comércio eletrônico”, explica Ismael
As três estruturas geodésicas compõem uma fábrica, uma sala de aula e uma casa de serviços, onde funciona um sistema de tratamento de água e resíduos e a produção de energia fotovoltaica, fazendo com que a infraestrutura seja móvel e autossuficiente
Este projeto representa uma grande inovação na Amazônia, utilizando tecnologias modernas para enfrentar desafios de logística, produção e comercialização, ao mesmo tempo em que proporciona oportunidades econômicas significativas para as comunidades locais, mantendo a sustentabilidade ambiental no coração de suas operações.
*Com informações DW
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