O planeta Terra não deixou de sinalizar que o aquecimento global tem consequências severas; mesmo com a intensificação das narrativas em favor da sustentabilidade, as emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando, assim como os eventos climáticos extremos
No início de novembro, quando mais de 190 nações se reuniram no Egito para discutir ações de enfrentamento às mudanças climáticas, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório indicando que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados na história.
As consequências disso foram, por mais um ano seguido, sentidas ao redor do globo. No Reino Unido, a temperatura ultrapassou os 40ºC pela primeira vez. No Paquistão, chuvas recordes levaram cerca de 1.700 pessoas à morte e 8 milhões foram deslocados de forma forçada. Na África Ocidental, a seca mais longa em 40 anos agravou a situação de insegurança alimentar de quase 20 milhões de pessoas.
“Muitas vezes, os menos responsáveis pelas mudanças climáticas sofrem mais – como vimos nas terríveis inundações no Paquistão e a seca mortal e prolongada no Chifre da África. No entanto, mesmo sociedades bem preparadas este ano foram devastadas por extremos – como visto pelas prolongadas ondas de calor e secas em grande parte da Europa e sul da China”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, por ocasião do lançamento do trabalho
No Brasil não foi diferente. Secas no Rio Grande do Sul e enchentes em Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia fizeram parte de nosso calendário.
No Norte ou Sul Global, houve lembretes diários das consequências cada vez mais graves e irreversíveis que ocorrerão se permitirmos que o mundo quebre o limiar de aquecimento de 1,5°C em relação aos tempos pré-industriais, como previsto no Acordo de Paris.
((o))eco compilou os principais eventos climáticos extremos ocorridos em 2022. Confira:
JANEIRO – FEVEREIRO
Início de Intensas chuvas e deslizamentos no Brasil
Em 2022, a cidade de Petrópolis novamente registrou deslizamentos mortais devido às intensas chuvas na região. Mas este foi o primeiro evento de precipitação extrema no Brasil, que sofreu com chuvas intensas durante vários meses do ano em diferentes estados do Nordeste, Sudeste e Sul. Somente nos primeiros 5 meses de 2022, foram registradas 457 mortes em desastres causados pelo excesso de chuva, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
FEVEREIRO
Enchentes na Malásia
As chuvas de monção da Malásia, que começaram em dezembro de 2021 e continuaram em 2022, causaram as piores inundações no país, desde a tragédia de 2014.
MARÇO – MAIO
Ondas de calor e seca no centro e sul asiático
Entre março e maio, o sul e o centro da Ásia, principalmente Índia e Paquistão, sofreram com uma onda de calor recorde que atingiu pelo menos 1 bilhão de pessoas e trouxe seca a diversas regiões. Temperaturas chegaram a 49ºC, causando secas, incêndios e destruindo plantações.
MAIO – JUNHO
Tempestades de areia no Oriente Médio
Países do Oriente Médio, incluindo Irã, Iraque e Síria, foram atingidos por tempestades de areia e poeira entre maio e junho deste ano, que causaram a hospitalização de mais de 1.000 pessoas por problemas respiratórios e interromperam voos dentro e fora de várias cidades. Embora as tempestades de areia sejam comuns na região, elas vêm acontecendo com mais frequência e têm se espalhado por áreas mais amplas.
JUNHO
Enchentes no Paquistão
Muitas partes do mundo sofreram inundações severas este ano, mas nenhuma tão catastrófica quanto o Paquistão, que matou mais de 1.700 pessoas e deslocou 33 milhões a partir de junho. Um terço do país ficou sob a água. Os prejuízos chegaram a quase 15 bilhões de dólares, além de outros 15 bilhões em perdas econômicas. Países como Índia, Bangladesh e Afeganistão também registraram centenas de mortes e milhões de deslocados devido a enchentes no mesmo período.
JUNHO – AGOSTO
Ondas de calor e secas na China
Entre junho e agosto, a China sofreu sua pior onda de calor em 60 anos, com temperaturas superiores a 40 ºC em diferentes províncias. Uma estiagem severa secou rios, incluindo o Yangtze, o mais longo da Ásia, e prejudicou a produção de energia hidrelétrica.
Foto – Leito seco do rio Jialing, um afluente do rio Yangtze na cidade de Chongqing, no sudoeste da China, em 25 de agosto de 2022. Crédito: Noel Celis/AFP.
JULHO – SETEMBRO
Ondas de calor na Europa e Estados Unidos
As altas temperaturas recordes também atingiram o ocidente, com ondas de calor mortais nos Estados Unidos e Europa. O Vale da Morte, na Califórnia, chegou a registrar 53ºC e países da Europa sofreram com os termômetros chegando a 43ºC. O número de mortes causadas direta ou indiretamente pelas ondas de calor em 2022 chegou a 20 mil. A seca resultante causou incêndios que destruíram florestas em países como França, Grécia, Portugal, Eslovênia, Espanha e Estados Unidos.
AGOSTO – OUTUBRO
Enchentes no oeste da África
Em contraste com a falta de chuva em vários países, outras partes da África sofreram inundações desastrosas este ano. Mais de 600 vidas foram perdidas e pelo menos 100.000 ficaram desabrigadas na Nigéria devido às enchentes em outubro. No vizinho Chade, centenas de milhares enfrentaram inundações em agosto e novamente em outubro, quando o país experimentou as chuvas mais fortes em 30 anos.
SETEMBRO
Furacão Ian nos Estados Unidos
O furacão Ian atingiu o estado da Flórida no final de setembro, causando o maior número de mortes por furacões na região em quase 90 anos. Mais de 100 vidas foram perdidas. As perdas estimadas ultrapassam US$ 100 bilhões. Cerca de 600.000 residências e empresas ficaram sem água e energia por dias após o furacão. A falta de energia também atingiu Cuba por vários dias.
OUTUBRO
Tempestades tropicais e tufões nas Filipinas
Em 2022, as Filipinas testemunharam vários tufões fortes, incluindo o tufão Noru, que também atingiu o Vietnã, e o tufão Nesat, que causou a fuga de milhares de pessoas. Mas os eventos climáticos mais destrutivos do país este ano foram as tempestades tropicais que causaram deslizamentos de terra e inundações. No final de outubro, a tempestade tropical Nalgae causou deslizamentos de terra mortais e mais de 550 inundações em todo o país. Mais de 100 pessoas morreram.
OUTUBRO
Tempestades tropicais na América Central
Furacão Julia trouxe devastação severa na Colômbia, Venezuela, Nicarágua, Honduras e El Salvador. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas.
NOVEMBRO
Seca no chifre da África
A seca prolongada nos países que compõem o Chifre da África – Eritreia, Etiópia, Somália e Djibouti – tem causado uma das crises alimentares mais extremas que o continente já viu. Em novembro, a ONU lançou um estudo sobre o assunto afirmando que ao menos 36,4 milhões de pessoas serão afetadas pela seca e fome ao longo do Chifre da África, nos últimos meses de 2022.
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