Precisamos sair urgentemente desta condição, pois, se não, será colocado em risco a vida de mais e mais pessoas. Possuir a liberdade de pensar, de agir e de falar é algo que precisa ser resgatado, aceitando as nossas imperfeições.
Por Augusto César Rocha
______________________________
Fugimos das crises verdadeiras para enfrentar crises artificiais. Para quem tem a barriga cheia pode ser uma boa diversão. Para quem não tem é odioso. Estamos em uma época de abundância de informações, que tem levado a uma superficialidade danosa no trato dos temas que nos cercam.
Ao invés de buscar um aprofundamento nas investigações da realidade, para solucionar os problemas do cotidiano, estamos escolhendo o caminho oposto, com o uso de bravatas (“prova de força ou de coragem desnecessária e eventualmente danosa”) conjugadas com a superficialidade, que esquece até fatos de um passado recente. Acordos são rasgados, conversas esquecidas, confianças nunca estabelecidas. Fazemos barulhos atordoantes sobre o que não interessa.
A efemeridade da internet adentra as relações, sobrando força bruta e desrespeito por tudo. Além das crises naturais, convivemos com crises fabricadas, que não existiam e nem existem. Nossas atenções são apreendidas para um monte de pautas fajutas. Tabloides viram especialistas em indústrias, usuários de tecnologias são alçados a experts e por aí vai a toada que marca o presente, que até transforma transeunte em especialistas.
Transcender esta condição talvez seja uma impossibilidade desta geração, se ela seguir a cair na armadilha de não participar dos debates e embates, com seu cérebro de pipoca. Onde estará a força para parar o processo de emburrecimento e embrutecimento que se percebe em muitos locais de debate franco em outras eras?
O foco segue sendo o ganho rápido. A questão é: para qual propósito? Há grupos que queiram mudar esta realidade para além de impor a sua vitória? Onde estão estes grupos? Não se consegue debater saídas das armadilhas onde nos colocamos. O discurso rápido contra tudo e todos facilmente se transforma em mais uma armadilha. Onde está a união sem a compra e venda de favores? Se a pessoa não se vende, logo é colocada de lado. Se ela se vende, logo é incluída para ser descartada em um segundo momento.
Precisamos sair urgentemente desta condição, pois, se não, será colocado em risco a vida de mais e mais pessoas. Possuir a liberdade de pensar, de agir e de falar é algo que precisa ser resgatado, aceitando as nossas imperfeições. Construir um espaço de debate sobre os problemas reais é algo que a imprensa precisa reencontrar. Construir uma Amazônia que respeite o ambiente é algo que o mundo precisa.
Por ora, só estão nas pautas a destruição do passado, do presente e do futuro, quer seja dos índios, da história, da floresta ou da indústria. Como se estivéssemos em um pesadelo. Talvez estejamos e está na hora de acordar. Como afirmado por Timothy Snyder, citando Tucídides, precisamos começar a estabelecer a distinção entre os relatos dos governantes e as verdadeiras razões das decisões e as investigações profundas são cada vez mais preciosas.
Comentários