Aqui, em nossas propostas de diversificação da economia, um dos critérios que orienta nossa contribuição para a interiorização do desenvolvimento se baseia no fomento à pesquisa, inovação e priorização a atividades não predatórias, algo em torno de R$2 bilhões/ano.
Por Wilson Perico(*) Coluna Follow-up (**)
A sexta edição dos Diálogos Amazônicos, da Fundação Getúlio Vargas, que ocorrerá no próximo dia 19/4/21, tem sido um espaço privilegiado para dar a conhecer, especialmente aos contribuintes da contrapartida fiscal que utilizamos na economia do Amazonas, o que fazemos visando gerar empregos, oportunidades e proteger a floresta de que tanto precisamos. Nesses debates, com especialistas das mais diversas áreas, temos acompanhado os esclarecimentos à disposição do público, da economia, da academia e da classe política, sobre o significado para o Brasil de abraçar a economia do programa Zona Franca de Manaus e dele extrair saídas de desenvolvimento intrinsecamente associado a sustentabilidade, como o mundo inteiro espera e começa a adotar. E qual o conceito estamos usando para falar sobre sustentabilidade e como isso está aplicado em nossa economia?
Adotamos aqui a mais fundamental das premissas conceituais da Agenda 21, referendada por 179 países, sob a batuta da ONU, no Brasil em 1992. Esta é a baliza da Organização até os nossos dias: Sustentabilidade é reposição dos estoques naturais e atendimento das demandas sociais. Impressionante quão atual é o livro “Amazônia um pouco-antes e além-depois” do maior pensador da Amazônia, Samuel Benchimol e sua afirmação : A ZFM não é um paraíso fiscal, mas sim, um paraíso do fisco” . Como atender às demandas sociais em contexto de confisco local? Eis algumas das aplicações do conceito de Sustentabilidade no programa Zona Franca de Manaus:
1 – Entre as plantas industriais do país inexiste um conglomerado fabril mais alinhado com a equação Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do que o Polo Industrial de Manaus. Aqui, um distrito industrial sem chaminés nem permissão para “distrações predatórias”, monitorado pelo olhar universal que nos acompanha, geramos 500 mil empregos, financiamos atividades ambientais não destrutivas com recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, o que ajuda a manter mais de 95% de nossa cobertura vegetal.
2 – Ao fomentar recursos para pesquisa – proporcionalmente os mais robustos do Brasil – trabalhamos para dar suporte a startups que produzem extratos vegetais beneficiados, café orgânico, fitoterápicos, agricultura sustentável, entre outras ações, sempre em áreas degradadas, e soluções de inovação na indústria 4.0, que permitem ao Polo Industrial de Manaus mais competitividade, portanto, mais benefícios regionais, indiretamente, evitando ações predatórias na economia da sobrevivência.
3 – Financiamos, integralmente, a Universidade do Estado do Amazonas, presente em todos os 62 municípios do Estado do Amazonas, promovendo a identidade de ações da academia, economia e conteúdos sustentáveis no trato pedagógico de nossos estudantes, muitos deles indígenas e ribeirinhos. Este é o melhor dos caminhos de afirmação da cultura da Sustentabilidade.
4 – Aqui, em nossas propostas de diversificação da economia, um dos critérios que orienta nossa contribuição para a interiorização do desenvolvimento se baseia no fomento à pesquisa, inovação e priorização a atividades não predatórias, algo em torno de R$2 bilhões/ano. Vemos, infelizmente, o redirecionamento desses recursos para custeio da máquina pública dada a extrema vulnerabilidade social existente no Amazonas. Isso significa que, além da preservação/reposição dos estoques naturais, temos atendido às demandas sociais fora do script legal e bem além de nossa responsabilidade social.
5 – Finalmente, considerando a convicção de todos os atores, verdadeiramente empenhados em conservar a Amazônia, com interação íntima entre as cadeias produtivas e cadeias do conhecimento, vemos com profunda insatisfação, a transformação do Amazonas em exportador de recursos para a União. Acreditem se puder. A cada R$ 100 bilhões de riqueza gerada pelo setor produtivo, apenas ¼ é aplicado na região, fazendo do Amazonas ser um dos 5 maiores contribuintes de verbas federais, a despeito de ser um dos estados mais pobres da Federação. Isso é o avesso da Sustentabilidade que nós do Amazonas buscamos por em prática sob os olhares atarantados dos atores internacionais. Isso torna capenga nossa caminhada pela Sustentabilidade. Até quando?
(*) Wilson Périco é economista, empresário e presidente do CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas .
(**) Follow up é uma coluna do CIEAM, publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, sob a responsabilidade editorial de Alfredo Lopes
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