Na segunda-feira passada, dia 9 de Agosto, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão vinculado a ONU, publicou um histórico relatório que condensa robustamente uma série de evidências para afirmar não apenas a urgência de medidas contra a crise climática, mas também para demonstrar que esta crise possui um agente causador muito claro: o ser humano.
Há muitos anos a comunidade científica já vem alertando sobre os impactos radicais da mudança climática global, embora haja algum negacionismo, muito minoritário, sobre sua existência, as evidências científicas vem se acumulando ao longo do tempo por meio de milhares de pesquisas publicadas por todo o mundo e revisadas pelos mais importantes e confiáveis periódicos científicos internacionais.
Um ponto fundamental que ainda abrigava certo debate era a da real importância da ação humana para o acirramento do efeito estufa, depois desse relatório do IPCC, não há mais margens para divergência baseada em ciência.
O portal BrasilAmazôniaAgora foi atrás do depoimento de alguns respeitados cientistas brasileiros para entender melhor a situação do clima global.
Thelma Krug, atual vice-presidente do IPCC, professora titular aposentada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-diretora do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, se pronunciou num webinar organizado pela Academia Brasileira de Ciência (ABC):
“Isso fica muito bem caracterizado. É uma mensagem científica muito clara, e tenho certeza de que essas mensagens, que foram todas aprovadas por consenso na reunião do IPCC na semana passada, terão reflexo no IPCC como um todo, e esperamos que reverberem no mundo político”
O pesquisador e ex-diretor do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e parceiro do portal, Adalberto Val disse:
“Todos contribuímos para que todos estejamos sob risco! O alerta vermelho está aceso para a humanidade. Todas as regiões do planeta já sao afetadas pelas mudanças climáticas. Acordemos para os fatos!”
Outro cientista brasileiro a se pronunciar diretamente com o portal foi um dos autores-líderes do relatório, Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do IPCC.
“O novo relatório do IPCC deixa claro a absoluta urgência de mudar o nosso modelo socioeconômico para um que seja sustentável a curto, médio e longo prazo, do ponto de vista de emissão de gases do efeito estufa e do ponto de vista de exploração dos recursos naturais do nosso planeta.
É fundamental reduzir o mais rapidamente possível a emissão de gases do efeito estufa que envolvem as queimas de combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos, o desmatamento de florestas tropicais (em particular pelo Brasil, Indonésia e Congo), e também reduções do setor de agricultura – que são críticos no caso brasileiro.
Falando da região amazônica, é importante salientar que não há nenhuma maneira mais fácil, barata e rápida de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa do que realmente ZERAR o desmatamento de florestas tropicais. Com inúmeros benefícios adicionais de manutenção dos serviços ecossistêmicos, de manutenção da precipitação e da chuva no Brasil central, e de pararmos a perda de biodiversidade associada com a destruição da floresta.
Então, o recado do IPCC é muito claro. Se quisermos evitar um aquecimento de 4 a 5 graus Celsius nas regiões continentais do nosso planeta temos que reduzir emissões e mudar o nosso sistema socioeconômico para um que seja minimamente sustentável.“
Quem também se pronunciou foi Niro Higuchi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o INPA, e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que comentou o seguinte gráfico:
“Está figura é muito emblemática. A temperatura média da Terra começou a oscilar para cima e para baixo, somente 58 anos depois da popularização do petróleo em 1880.
A partir de 1977, a temperatura média sempre esteve acima da média histórica.
Em 2020, ano da pandemia, as emissões foram menores; mesmo assim, a temperatura média foi a segunda mais alta desde 1880.
Esses sinais podem indicar o seguinte: mesmo que a gente reduza as emissões nos próximos 20-30 anos, a nossa (pais e filhos) geração não vai se beneficiar desses efeitos; talvez, a geração dos netos. Essa inércia pode nos dar a sensação de impotência e a situação pode piorar.
Acho que a nossa geração vai viver de sustos até que a situação melhore um pouco ou piore de vez. Sustos em relação a verões mais curtos e mais rigorosos, invernos mais curtos e mais rigorosos, chuvas mal distribuídas etc.”
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